Com mais de 2.000 anos, o tesouro do antigo reino da Bactria – região no atual Afeganistão - esteve por mais de um quarto de século escondido desde a sua descoberta nos anos 70 do século passado por arqueólogos russos, o que gerou diversas especulações e histórias, algumas das quais dignas de filmes de suspense. Durante esse período de tempo, o tesouro afegão de Tillya Tepe sobreviveu à invasão soviética, às guerras entre os mujahaddin, à ascensão política do Talibã e à invasão dos Estados Unidos em 2001.
Mas em agosto de 2003, o governo afegão anunciou que as jóias e objetos de ouro da antiga Bactria tinham sido recuperados e convidou um grupo de arqueólogos para analisar, inventariar e atestar sua autenticidade.
As jóias e artefatos de ouro foram encontrados em 1978 na Pilha de Ouro, ou Tillya Tepe, numa província no norte do Afeganistão entre as montanhas Hindu Kush e o rio Amu Darya. O sítio começou a ser escavado devido a rumores que diziam que um homem dourado jazia em uma urna de ouro. Mas em vez disso, a equipe russa descobriu um templo com 4.000 anos de idade contendo as tumbas de cinco mulheres e um homem. Os arqueólogos chegaram à conclusão de que por volta do primeiro século da nossa era, uma tribo nômade de báctrias escondeu as tumbas entre as ruínas do templo abandonado.
Cada um dos corpos encontrados estava com as vestimentas adornadas por jóias, contas, moedas, fivelas, espelhos e placas em ouro, como era a tradição nômade: ricos ou nobres literalmente carregavam consigo suas riquezas. Quatro dos seis nômades foram enterrados com suas cabeças apontando para a direção norte e moedas estavam sobre as bocas de duas das mulheres (provavelmente o pedágio requerido pelo mitológico barqueiro Caronte para fazer a travessia do rio Estige).
O sítio arqueológico encontrado data de um tempo na Bactria sobre o qual se sabe muito pouco. Segundo o arqueólogo Hiebert, é muito difícil precisar quem eram esses nômades, mas os objetos e jóias encontrados podem ajudar a entender o papel que os mesmos tinham no comércio existente na Rota da Seda e no relacionamento com as diversas culturas existentes na região.
O tesouro, ainda em estudo, pode eventualmente revelar novas informações sobre o espaço de tempo perdido na História que vai do declínio do reino greco-bactriano até a ascensão do grande império Kushan. Alguns objetos encontrados são pouco comuns: uma moeda de ouro que mostra em uma de suas faces um homem descansando na Roda do Dharma e, na outra, um leão com uma das patas elevadas. Uma outra moeda é estampada com o perfil do imperador romano Tibério, e é considerada a primeira moeda deste tipo a ser encontrada na Ásia Central.
Ainda, um par de fivelas de ouro mostra Cupido com dois golfinhos, mas sendo representado como um homem mais velho e de aparência cínica, bem diferente da forma como este deus grego era representado e os dois golfinhos são mais parecidos com peixes que habitam o rio Amu Darya do que com os originais.
Durante as três últimas décadas, estima-se que mais de 2/3 do acervo do Museu de Cabul foi destruído, já que o prédio foi severamente bombardeado em diversas ocasiões. Mas o tesouro de Tillya Tepe permaneceu intacto, graças à absoluta discrição dos funcionários do museu envolvidos na operação para colocar o tesouro em um lugar secreto e de difícil acesso (até hoje não se sabe onde foi este lugar).
O conteúdo das seis tumbas oferece algumas respostas e muitas perguntas sobre a Rota da Seda e sobre a cultura bactriana no primeiro século DC. Ainda é impossível para os estudiosos envolvidos apontar por que e de que causas os nômades morreram e por que o antigo templo foi escolhido como local funerário. As sugestões passam por calamidades como fome, doença fatal ou um ataque desfechado contra o grupo.
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