sábado, 5 de julho de 2014

CONHEÇA A JOALHERIA CELTA

Os celtas, renomados artesãos e mestres decorativos de peças em metal, chegaram à Irlanda em torno do ano 500 aC, vindos da Europa Central através da Gália e da Bretanha , provavelmente expulsos de suas terras pela expansão da civilização romana. Devido ao frio e aos ventos cortantes da extremidade da ilha nomeada de Britannia pelos conquistadores romanos, para este povo mediterrâneo, esta região parecia um lugar impossível para a existência de vida civilizada e, portanto, foi deixada de lado. Assim, a arte celta encontrou seu refúgio por vários séculos que se seguiram e contribuiu enormemente para o desenvolvimento artístico da Irlanda.
A partir do século VI da nossa era, os broches, uma das mais importantes peças da joalheria medieval, passaram a ser mais luxuosos, decorados de forma a declarar o nível social de quem o portava. O Broche Roscrea, encontrado no Condado deTipperary, é um belo exemplo de como os joalheiros celtas adaptaram técnicas estrangeiras ao seu trabalho. As técnicas decorativas da joalheria saxônia que chegaram à Irlanda por volta do século VII, eram admiradas pela beleza do uso de gemas brilhantemente polidas, da filigrana e da gravação em metal. Ao adaptarem estas técnicas, em vez de utilizarem grandes gemas para decorar suas jóias, os celtas optaram pelo contraste simples mas elegante da decoração feita por detalhes diminutos em meio a espaços lisos: o Broche Roscrea, confeccionado em prata, é rico em detalhes como fileiras de diminutas espirais e intrincados entrelaces, contrastando com partes lisas.


Entre os séculos VII e IX, a joalheria celta na Irlanda atingiu seu ápice e a mais bela peça que representa este período é o Broche Tara. Apesar do nome, o broche não foi encontrado em Tara, local dos antigos reis irlandeses, mas foi assim nomeado por causa do seu inigualável esplendor, próprio da realeza. O broche, datado do início do século VIII, foi descoberto em uma caixa de madeira na praia de Boyne, no Condado de Meath.


Todas as técnicas de joalheria da época foram usadas em sua criação, como a gravação, a filigrana, o intaglio e a fundição. Vidro moldado, esmaltes e âmbar foram circundados e também banhados em ouro contra um reverso de prata onde figuram bestas e pássaros inspirados pela arte saxônia: filigranas e entrelaces de minúsculos grãos de metal compõem a figuras. Ao broche está presa uma corrente de prata, sugerindo a possibilidade de que fazia par com um outro broche, infelizmente nunca encontrado. Esta corrente , maravilhosamente confeccionada com milhares de anéis de prata, está fixada de cada lado do corpo do broche por duas presilhas em forma das garras de dois dragões. Entre os dragões estão duas diminutas contas de vidro, esculpidas com faces humanas. Estes detalhes individuais mostram o virtuosismo do ourives, que os utilizou para formar uma figura maior: a cabeça de uma serpente, com as contas de vidro como olhos e a corrente de prata como cauda. O verso e o anverso do broche compõem diferentes técnicas de ourivesaria e de decoração, num entrosamento perfeito. A frente do broche é refinada e sofisticada, com vidros coloridos e âmbar incrustados na filigrana, asseverando o alto status de seu portador. A parte posterior da peça é decorada com animais contorcidos que dão a impressão de se debaterem para sair das molduras que os confinam.

O Tesouro de Hochdorf



Fotos: Museu Celta de Hochdorf

Em 1977, um arqueólogo amador descobriu na Alemanha, perto da localidade de Hochdorf an der Enz, Baden- Württemberg, uma tumba celta do século 530 AC ricamente guarnecida, localizada em um sítio arqueológico de aproximadamente 60 metros de diâmetro. Logo, a tumba passou aos cuidados do arqueólogo Dirk Krausse e sua equipe, que se referiu à descoberta como um marco da arqueologia e do estudo da cultura celta. O local onde a tumba foi encontrada é chamado de “Oppidum”, palavra em latim para vila ou burgo e originalmente tinha 6 metros de altura, com a forma de uma colina.
Usando uma nova técnica de escavação, os arqueólogos foram capazes de retirar toda a câmara fúnebre de só uma vez, ao contrário da técnica antiga de retirar peça por peça. A câmara mede 12 x 15 m2 e foi retirada como um grande bloco de terra e transportado para Stuttgart. A razão para tal técnica é que os arqueólogos queriam preservar todo o material achado dentro da câmara mortuária sem correr o risco da exposição ao ar livre, o que geralmente danifica tecidos e vestimentas.
Dentro da tumba, jazia um homem com aproximadamente 40 anos e 1,87 m de altura, deitado num elegante sofá feito em bronze, ao estilo romano. Pelas ricas vestimentas e pelos objetos encontrados no corpo e ao redor dentro da tumba, o homem foi um chefe celta que viveu há 2.600 anos. No pescoço estava um torc (colar de batalha usado por várias culturas antigas, incluindo a celta) feito em placa de ouro, um bracelete no braço direito, um chapéu feito de casca de bétula, uma adaga de ferro e bronze decorada em ouro, joias em âmbar, uma navalha, um cortador de unhas, um pente, anzóis, flechas e, o mais fantástico, placas de ouro trabalhadas que decoravam seus sapatos. Aos pés do sofá, um grande caldeirão decorado com três leões. O caldeirão continha originalmente 400 litros de hidromel. Do lado oposto ao sofá de bronze, uma espécie de carroça feita em madeira com um conjunto de pratos em bronze e chifres que serviam como copos pendurados na parede, utensílios suficientes para servir nove pessoas.
A tumba do chefe celta data do último período da chamada Cultura Halstatt (640-475 AC) e que já foi objeto de artigo anterior de minha autoria. A exatidão do período de tempo foi possível por causa das joias em ouro e bronze encontradas na tumba.

Aos leitores e visitantes do blog da Nanda Semi-jóias: tenham todos uma excelente tarde!


sexta-feira, 4 de julho de 2014

TILLYA TEPE: TESOURO RECUPERADO

Com mais de 2.000 anos, o tesouro do antigo reino da Bactria – região no atual Afeganistão - esteve por mais de um quarto de século escondido desde a sua descoberta nos anos 70 do século passado por arqueólogos russos, o que gerou diversas especulações e histórias, algumas das quais dignas de filmes de suspense. Durante esse período de tempo, o tesouro afegão de Tillya Tepe sobreviveu à invasão soviética, às guerras entre os mujahaddin, à ascensão política do Talibã e à invasão dos Estados Unidos em 2001.
Mas em agosto de 2003, o governo afegão anunciou que as jóias e objetos de ouro da antiga Bactria tinham sido recuperados e convidou um grupo de arqueólogos para analisar, inventariar e atestar sua autenticidade.


As jóias e artefatos de ouro foram encontrados em 1978 na Pilha de Ouro, ou Tillya Tepe, numa província no norte do Afeganistão entre as montanhas Hindu Kush e o rio Amu Darya. O sítio começou a ser escavado devido a rumores que diziam que um homem dourado jazia em uma urna de ouro. Mas em vez disso, a equipe russa descobriu um templo com 4.000 anos de idade contendo as tumbas de cinco mulheres e um homem. Os arqueólogos chegaram à conclusão de que por volta do primeiro século da nossa era, uma tribo nômade de báctrias escondeu as tumbas entre as ruínas do templo abandonado.
Cada um dos corpos encontrados estava com as vestimentas adornadas por jóias, contas, moedas, fivelas, espelhos e placas em ouro, como era a tradição nômade: ricos ou nobres literalmente carregavam consigo suas riquezas. Quatro dos seis nômades foram enterrados com suas cabeças apontando para a direção norte e moedas estavam sobre as bocas de duas das mulheres (provavelmente o pedágio requerido pelo mitológico barqueiro Caronte para fazer a travessia do rio Estige).
O sítio arqueológico encontrado data de um tempo na Bactria sobre o qual se sabe muito pouco. Segundo o arqueólogo Hiebert, é muito difícil precisar quem eram esses nômades, mas os objetos e jóias encontrados podem ajudar a entender o papel que os mesmos tinham no comércio existente na Rota da Seda e no relacionamento com as diversas culturas existentes na região.


O tesouro, ainda em estudo, pode eventualmente revelar novas informações sobre o espaço de tempo perdido na História que vai do declínio do reino greco-bactriano até a ascensão do grande império Kushan. Alguns objetos encontrados são pouco comuns: uma moeda de ouro que mostra em uma de suas faces um homem descansando na Roda do Dharma e, na outra, um leão com uma das patas elevadas. Uma outra moeda é estampada com o perfil do imperador romano Tibério, e é considerada a primeira moeda deste tipo a ser encontrada na Ásia Central.
Ainda, um par de fivelas de ouro mostra Cupido com dois golfinhos, mas sendo representado como um homem mais velho e de aparência cínica, bem diferente da forma como este deus grego era representado e os dois golfinhos são mais parecidos com peixes que habitam o rio Amu Darya do que com os originais.
Durante as três últimas décadas, estima-se que mais de 2/3 do acervo do Museu de Cabul foi destruído, já que o prédio foi severamente bombardeado em diversas ocasiões. Mas o tesouro de Tillya Tepe permaneceu intacto, graças à absoluta discrição dos funcionários do museu envolvidos na operação para colocar o tesouro em um lugar secreto e de difícil acesso (até hoje não se sabe onde foi este lugar).
O conteúdo das seis tumbas oferece algumas respostas e muitas perguntas sobre a Rota da Seda e sobre a cultura bactriana no primeiro século DC. Ainda é impossível para os estudiosos envolvidos apontar por que e de que causas os nômades morreram e por que o antigo templo foi escolhido como local funerário. As sugestões passam por calamidades como fome, doença fatal ou um ataque desfechado contra o grupo.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Veja as principais técnicas decorativas na Joalheria através da História

Na joalheria artesanal, existem várias técnicas para decoração de joias, empregadas há centenas ou milhares de anos e ainda utilizadas hoje. Algumas delas têm seus nomes em francês, italiano ou inglês.

ESMALTAÇÃO

Técnica decorativa usada para trazer cores às joias, sem a necessidade das gemas - pode ser decoração secundária ou o foco principal da joia. O esmalte é um composto transparente vítreo colorido com a adição de óxidos metálicos. Em forma de pó, o composto é colocado em cima da superfície metálica a ser decorada e então aquecido, até que derreta e seja fixado na área escolhida. Apesar de ter um alto grau de aderência ao metal, o esmalte é uma forma de vidro e, consequentemente, propenso a rachar ou até mesmo descolar do metal se não aplicado corretamente. Geralmente, uma superfície plana esmaltada terá seu reverso também esmaltado de maneira a balancear as forças de expansão e contração produzidas no metal.

- Cloisonné (do francês cloison = célula, compartimento): técnica de esmaltação criada pelos antigos gregos na qual o desenho a ser decorado na peça de joalheria (em geral em ouro) é feito por células formadas a partir de pequenas grades, nas quais o esmalte é depositado e depois aquecido. As células podem ser niveladas à superfície metálica ou somente polidas, dando ao desenho um aspecto vítreo.


- Champlevé: técnica de esmaltação onde, em vez das células da técnica anterior, o metal é escavado (ou gravado), fazendo com que o esmalte seja depositado nas depressões e, depois de aquecido, permaneça no mesmo nível da superfície metálica. Técnica criada na Antiguidade.


- Basse-taille (baixo-relevo): Variação da técnica champlevé, onde a área escavada do metal é decorada com um design em padrão, podendo ser ele gravado ou em baixo-relevo, e depois recoberto com esmalte translúcido, assim fazendo com que o design seja visto através do composto vítreo. Técnica muito usada pelos antigos romanos.


- Plique à jour: Talvez a técnica de esmaltação mais difícil e também a mais frágil. Diminutas células recortadas na superfície metálica são preenchidas com esmalte transparente, proporcionado o mesmo efeito dos vitrais. Desenvolvida na França e na Itália durante o século XIV e muito usada por artistas durante a Renascença.


Limoges: Técnica de esmaltação que requer conhecimentos de pintura. O esmalte é reduzido a um pó finíssimo e, com um pincel, aplicado à superfície metálica. Como são usadas várias cores de esmaltes, o processo passa por vários estágios de aquecimento. Técnica criada na cidade francesa de Limoges, durante o século XII.


Grisaille: Técnica de pintura com esmalte que usa somente dois tons. O design é feito em esmalte branco sobre uma superfície metálica esmaltada em preto ou azul. Popularizada durante a Renascença, especialmente na França.


FILIGRANA

Esse delicado método de decoração de joias requer paciência e muita habilidade. Finíssimos fios de metal são dobrados, torcidos e tornados chatos: essa é a base da técnica da filigrana. Com essa base, podem ser feitas lindas decorações em joias e, até mesmo, uma peça inteiramente feita em filigrana. A melhor e mais delicada técnica de filigrana é a open-back (fundo aberto). Um dos grandes segredos da filigrana, além da paciência e da criatividade, é a solda que tem que ser feita a uma temperatura que não comprometa os designs formados pelos fios torcidos. A técnica foi criada pelos antigos etruscos e muito usada por ourives da antiga Grécia, especialmente durante o Período Helênico.


GRANULAÇÃO

Exemplos dessa técnica decorativa podem ser encontrados em muitas joias antigas, mas nenhuma delas se igualou à qualidade da granulação criada pelos etruscos (a partir do séc. VI a.C.). Na granulação etrusca, minúsculas esferas de ouro eram afixadas a uma base de metal precioso, em geral ouro, por um método que unia a solda e a fusão. Usando esta técnica, os ourives etruscos eram capazes de realizar maravilhosos e delicados designs com grande precisão.

A técnica aperfeiçoada pelos artesãos etruscos não pôde ser repetida durante 2.500 anos, apesar de várias tentativas feitas por ourives e artesãos ao longo dos séculos. Somente no séc.XIX, o joalheiro romano Fortunato Castellani e seus filhos foram os primeiros, depois de várias pesquisas em joias antigas, a conseguir repetir a técnica etrusca da granulação.


GRAVAÇÃO (baixo-relevo)

A técnica da gravação é talvez a técnica decorativa mais utilizada na joalheria, e a mais antiga, quando se trata de decoração de superfície de metais preciosos. Ainda assim, foi preciso o domínio da metalurgia do ferro, metal superior ao bronze em relação à dureza e a abundância de jazidas (as primeiras indicações de sociedades com nível cultural e tecnológico correspondente à Idade do Ferro surgiram no século XII a.C. no Oriente Próximo, na Índia, na África e na Grécia. Em outras regiões da Europa, o início da Idade do Ferro deu-se mais tarde, a partir do século VIII a.C.) para que surgissem as ferramentas necessárias para a técnica da gravação. Algumas das ferramentas mais usadas são os rolos ou cilindros para gravação: dois rolos ou cilindros de aço (inicialmente, de ferro) contendo desenhos gravados em sua superfície que, ao pressionarem simultaneamente uma fita de metal precioso deixavam nela padrões gravados, que poderiam se repetir infinitamente. Mas a ferramenta para gravação mais comum desde tempos imemoriais é o buril, que permite ao artesão uma gama extensa de possibilidades de designs gravados e, ainda, “marcar” a sua obra, já que o trabalho de gravação com buril assemelha-se ao de um calígrafo com a pena, é único e pessoal.


INTAGLIO

A técnica do intaglio pode ser feita em uma grande variedade de superfícies, incluindo as gemas e os metais preciosos, no caso da joalheria. Na Antiguidade, a técnica do intaglio era utilizada principalmente para a confecção de sinetes ou anéis com o símbolo do clã ou família. Nas gemas, esculpiam-se magníficos designs com elaborados detalhes. O intaglio era e é feito artesanalmente esculpindo-se literalmente o metal precioso ou a gema.


METAL INLAY

Através desta técnica, diferentes cores de metal precioso ou diferentes metais preciosos são “enquadrados” em uma superfície preciosa já preparada com recortes feitos pelo cinzel, ou por gravação. O Inlay pressupõe o enquadramento de metais preciosos mais macios nas cavidades de superfícies metálicas preciosas mais duras.


MOSAICO

A criação de paisagens em miniatura para decoração de joias com o emprego desta técnica existe desde o início do século XIX na Itália. A forma mais detalhada do Mosaico na joalheria é feita em Roma e é conhecida como “micro mosaicos”: a pintura é formada usando-se minúsculos tesserae (azulejos) feitos geralmente de vidro colorido, que são cimentados na peça de joalheria.

- Pietra Dura: Técnica desenvolvida em Florença, onde os tesserae são substituídos por gemas como ágata, malaquita e carneliana, que são aplicadas sobre um fundo negro. Os designs utilizados em geral são motivos florais.


NIELLO (do italiano niellatura = escurecimento)


Técnica inventada pelos antigos egípcios e espalhada pela Europa durante a Idade do Ferro, consiste na aplicação de uma liga de cor preto-esverdeada contendo prata, cobre, chumbo e enxofre, em linhas gravadas, células ou áreas escavadas na superfície metálica, que depois recebe aquecimento à baixa temperatura para aderência da liga ao metal. Depois, a superfície pode ser polida ou queimada e fica com um brilho metálico semelhante ao da gema conhecida como hematita.


PIQUÉ

Usada para decorar cascos de tartaruga primeiramente, ou chifres de animais, essa técnica insere prata, ouro ou madrepérola nas linhas abertas por designs gravados na superfície. A técnica originou-se na Itália do século XVI.


REPOUSSÉ

Consiste em formar desenhos ou padrões em uma superfície chata de metal precioso, pelo método de martelar pelo lado “avesso” da chapa de metal para delinear o desenho ou estabelecer o padão usando martelo de ourives e pinos de aço próprios para a técnica. Às vezes, nem todos os detalhes podem ser feitos pelo lado “avesso” da folha de metal, então se vira a chapa e a decoração é terminada com a complementação dos designs. Quando o método necessita desse último recurso, a ele é dado o nome de chasing (ou gravação em relevo). Desde centenas de milhares de anos, o repoussé é uma técnica que consome muito tempo, normalmente sendo usada apenas para joias significativas, sejam em tamanho ou valor.


STAMPING

A técnica consiste em criar infinitos e pequenos desenhos na cabeça de pinos de aço (anteriormente utilizava-se o ferro) que, ao serem martelados contra uma fina folha de metal precioso, formam designs. Nessa técnica o ourives também pode utilizar o método da impressão por repetição (padrões), ao criar um carimbo com determinado desenho e pressioná-lo contra a folha de metal, com a ajuda do martelo de ourives. Ainda pode criar o negativo do carimbo e utilizar ambos, de um lado e de outro da folha, para a impressão do desenho, fazendo com que o stamping fique mais acentuado. A qualidade dependerá da maestria e da criatividade do profissional.
Em muitas peças de joalheria antigas, que contam com até 7 mil anos de idade, foi utilizada a técnica do stamping que, inicialmente a olhos leigos, poder-se-ia pensar que fosse a técnica do repoussé.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

A história da joalheria Romana

Os famosos retratos da múmia egípcio-romana (datados em torno de 300 aC), mostram o gosto romano por jóias de uma forma bem realista. Veja abaixo alguns exemplos:







Outra interessante fonte arqueológica encontra-se nas esculturas funerárias de Palmira, no noroeste do deserto sírio, outrora chamada de Roma do Leste, e governada pela legendária rainha Zenóbia, que manteve este pequeno estado árabe independente, até ser conquistado pelos romanos e sua rainha enviada para Roma acorrentada. 
O que hoje é considerada a joalheria clássica dos antigos romanos também pode ser vista nas jóias encontradas em Pompéia e Herculano.A joalheria clássica romana era naturalista e figurativa, ora confeccionada em linhas planas e simples, era em elaborados motivos florais. Em geral, os artesãos e ourives romanos não eram tão sofisticados ou ambiciosos quanto seus colegas gregos: a joalheria helênica é , de longe, bem mais elaborada, detalhada e decorada. Ainda assim, evidências de jóias requintadas sobreviveram. As esmeraldas eram as gemas favoritas: podiam ser usadas na forma de cristais, junto a pérolas – outra gema extremamente apreciada- ou lapidadas e usadas para decorar colares mais elaborados, à imitação dos gregos. Safiras, águas-marinhas, topázios e diamantes brutos também eram muito utilizados na joalheria romana. 
Veja alguns modelos da joalheria clássicas:

 
Tiara Helenística, Séc. IV/III ac. $2.500

 
Entalhe Funerário Egípcio, Jaspe Vermelho, $10.000, séc. VIac

 
Medalhão com representação da Lua, deusa pagã. Ouro, séc. III/VI (6,2cm diâm). $12.000

 
Pendente com entalhe romano em ametista. Séc. Iac. $5.000

 
Pendente Egípcio, Ouro, $8.000, Séc. VIIac

Importante par de pulseiras Helenísticas dos finais do séc. IV ac. Ouro. Raras e muito cobiçadas base:$80.000

Importante par de discos etruscos (séc. IV ac), bem representativos da maestria técnica de ourivesaria que este povo atingiu. $4.000. Fecho de colar Grego, cabeças de leão, séc. V ac, peça rara e de extrema qualidade. $15.000

 
Conjunto de colares diversos, médio oriente, 2º e 3º milénios a.c.; cada um ca. $2.000. De salientar o raro par de brincos (arrecadas) assírias do séc. VIII ac. em excelente estado de conserveção, $45.000

 
Pormenor de dois colares romanos em ouro e ágatas. séc.II ac.

 
Camafeu Romano em Ónix. Séc. III. $1.500

Dois pares de brincos helenísticos. Da esq para a direita, Séc. II e I ac; $12.000 e $4.000

Par de brincos Helenísticos do séc. IV ac. $12.000



O design romano utilizava granulação e filigrana, e o uso de esmaltes não era tão comum. Raramente somente um elemento de estilo existia na decoração de uma jóia – por exemplo, as superfícies em forma de domos, características do Período Etrusco e encontradas em brincos e braceletes, conviviam perfeitamente com influências helênicas como a policromia – técnica que consistia em folhear uma superfície de madeira com folhas de ouro , às quais eram depois aplicados esmaltes (e que persistiu até meados de 400 dC, já em pleno Império Bizantino). A bulla persistiu até o primeiro século da nossa era e a roda, símbolo que se acreditava deter poderes mágicos, tornou-se um motivo recorrente nas jóias romanas. Dos gregos emergiu também a fibula – uma espécie de alfinete para prender roupas e que se tornou bastante popular entre os romanos, da Síria veio o design do crescente invertido com esferas em ambos os lados, e que representava o deus condutor de carruagens Baal Rekub. Da Ásia Ocidental veio a influência, já no primeiro século depois de Cristo, da barra horizontal da qual pendiam dois ou três pendentes verticais.
Veja alguns modelos de fíbulas:

Fíbulas germânicas do século V.

Arquivo: KHM Wien VIIb 349 - fibula.jpg 'VTERE FELIX'
Inglês: fíbula ouro romana inscrita "VTERE FELIX" ( Use isto com sorte ),
 tarde terceiro século dC. Do local do enterro do Osztropataka Vandal, 
em torno ou antes de 300 dC.

Fibula Braganza, British Museum

No ano 200 dC aparece o opus interrasile, técnica de perfurar sólidas folhas de metal para criar um trabalho decorativo e que mudou a face das jóias do Período Imperial. Uma influência do comércio existente durante o período da Roma Imperial foi a predileção por jóias onde várias gemas coloridas decoravam uma mesma peça – os romanos amavam os rubis, as ágatas, as granadas, os lápis- lazulis, os corais rosas e vermelhos encontrados no mar Mediterrâneo e o âmbar, encontrados nas águas frias dos mares do Norte e Báltico. Intaglios eram recortados em gemas, ou as mesmas podiam ser decoradas em cabochons. Os camafeus eram adorados e as pérolas podiam ser usadas em tiaras usadas para adornar os altos penteados das ricas matronas romanas.
Veja alguns modelos feitos com a técnica do opus interrasile:

Pulseira d'enfant
Pulseira d'enfant Orne de Perles et de saphirs.
Interrasile Opus , placa d'or découpée à jour. Trouvé en Syrie. Vers 400

Antiga pulseira de ouro romana doHoxne Hoard , encontrado na Grã-Bretanha e enterrado 
depois de 407 AD. O nome JULIANE é soletrada para fora.

anel de dedo; Romano-britânica; 2ndC-3rdC; Parque da Rainha

cadeia de mama; No início bizantino; 7thC (precoce);Assiut; Antinoupolis

colar; No início bizantino;6thC-7thC

pulseira; Romano-britânica;Hoxne

pulseira; Romano-britânica;Hoxne

colar; Tarde antigo; 4thC;Silivri

pingente; No início bizantino;7thC

placa; Tarde antigo; 4thC;Turquia

pingente; No início bizantino;7thC

No segundo século dC, torna-se moda a utilização de moedas e medalhões de ouro imperiais como motivos decorativos para anéis entre os homens, o que também era uma marca de distinção militar. Quando as moedas eram utilizadas em colares, como pendentes ou em broches, significavam uma adulação por parte de quem as portava, em relação ao dono da face que se encontrava nas moedas ou medalhões. O niello,outra técnica decorativa onde eram utilizadas superfícies de ouro e prata, era popular e, a partir de 300 dC aparecem os braceletes de ouro maciço e a versão crossbowdas versáteis fibula, que eram semelhantes às atuais fivelas redondas para cintos (mas num tamanho bem maior), e ainda usadas para prender roupas, principalmente mantos.


A cunhagem de moedas em jóias

A moda de incorporar moedas no adorno pessoal é conhecida no mundo grego. O grande florescimento da cunhagem de jóias remonta ao período romano imperial médio.


Equiparando as poucas jóias que remontam ao final do século I-II. C., com o período de severa, existe, de fato, uma produção notável de cunhagem de jóias. Estas continuam a ser criadas, mas em menor medida, a cunhagem com as formas mais marcantes, mesmo no século IV e início do século V. A reutilização com função decorativa de moedas romanas foi limitada ao seu valor nominal em ouro.


Esporadicamente verifica-se a utilização de amostras de prata (denier e Quinari), por vezes revestida com uma folha de ouro, de forma a assumir o aspecto de uma moeda valiosa. O uso em folha de ouro, obtido a partir de espécimes por moeda surgiu também de forma casual.

Raríssimo é, finalmente, a utilização de metais não preciosos. O lado visível da moeda mostra o retrato do imperador ou da imperatriz. 


Inclinada cunhagem de Roma (via Ostiense Necropolis), a primeira metade do segundo século d.c., Roma, Museo Nazionale Romano. O pingente foi colocado no pescoço dell'inumata, com um círculo dourado suave, opaco e incorporado um quinário de Adriano.


Inclinada cunhagem-pingente, de origem desconhecida, consiste num quadro com ovos de ouro das palmas e Mãos Los Opaco.Nesta peça está inserida a Antoninianus 244-247 AD de Filipe I. 


Colar cunhagem do Egito (Assiut), Início do Século V. d. C., Berlim, Museu Staatliche, Antikensammlung atual Moeda de Ouro (87 cm). Acoplado num grande pingente com um quadro "opus interrasile", cujo centro é múltiplo num conjunto de Honorio (393/5-423 c.d.).


Colar cunhagem Egito, Final antecipada I-II d. C., Londres, Museu Britânico Pingente contém um simples círculo de um aureus de ouro domiciano 91 d.c.. Apartir desta foi colocada em suspense a actual de ouro (50,8 cm). Sistema de Bloqueio Operacional, típico de fabricação de jóias egípcias. 

Tipos

As jóias da cunhagem romana são essencialmente compostas por seis tipos: de suspensão, elementos para colares, broches, pulseiras, anéis, cintos de fechamento. As moedas pingentes podem ser usadas individualmente ou combinadas em números variados em belos colares. Paralelamente a estas jóias mais generosas, estão as moedas simplesmente equipadas com um buraco que é suposto ser usado para suas cadeias de suspensão ou cintos. 


Parece bastante limitado para o mundo da barbaricum que se aplicam ao uso de moedas de ouro romano, ou suas imitaçoes, um simples appiccagnolo, soldá-lo para a borda superior da amostra, que é então fechada em si mesma representa um quadro decorativo.


Inclinando-se a cunhagem de barbaricum (21,19 g) Ouro múltipla Constâncio II no valor de cinco Sólidos, emitido na Casa da Moeda de Sirmium no 355-356 d. C. Os pingentes foram transformados através de solda na beira de um pequeno cilindro oco. ouro decorado com ranhura.


Apesar de não serem numerosos,os colares moeda conheceram um tempo de difusão muito longo. Quando mais pingentes estão suspensos à cadeia, mais estes são separados um do outro por espaçadores adequados, barras cilíndricas ou poligonal pilastrini. Iguais ou semelhantes ao elemento de fecho do colar pode-se inserir uma moeda.


Os colares de moedas descritos em documento egípcio, utilizam um sistema de extensão da cadeia através de ouro "ânforas". Pingentes representavam a classe mais generalizada porque eles próprios são despojados de alguma corrente de metal a que se poderia estar ligado, presume-se que neles foram suspensos fitas, tal como o couro ou tecido.

Este tipo de jóias é assumido como uma moeda de uso feminino. 


Inclinando-se a cunhagem de Vaise (Lyon), III d. C., Lyon, Musée de la Civilização galo-romana. O pingente foi encontrado com um marco de 1992, incorporação em quadro de um peltae num total de Ouro do Gordian III 238-244. 


Colar de cunhagem Aboukir Bay (Egito), Metade do III d. C., Kansas City, Nelson-Atkins Museum of Art. Os onze pingentes dourados contêm moedas Adriano, António Pio, faustina Sênior, júnior Faustina, pertinax, Carcala, Macrino, Heliogábalo, Gordiano III (238-244 d.c.). Um padrão-ouro do século XII, emitido por Alexandre Severo, é inserido num golfinho de Risso. Um peso atinge o total de 309 gramas (comprimento 77cm). 


O arranjo de busca sugere pingentes de certa simetria apartir de diferentes tipos de estrutura. o contorno dos pingentes são geralmente circulares, hexagonais e octogonais.

O quadro assume uma maior amplitude nos pingentes e as moedas de IV e V século podem ser usadas para o anel de suspensão.


Colar cunhagem IIId.c., Chicago,The Field Museum de História Natural três pingentes que encerram o ouro Otacília Severa, Gordian III e Probus (276-282 d.c.). Decoração com folhagens e pergaminhos. Dois pingentes colaterais, incorporados na planta padrão geométrico estrela de oito pontas.

Os quatro espaçadores, formam pilastras e são obtidos com a técnica de opus interrasile . A passagem de varias correntes de ouro decoradas com anforas permite alongar o colar. 


O mundo romano não revelou alguns tipos de cunhagem mas especula-se que eram do uso masculino. Neste tipo de gema, a moeda assume a função de bisel. Os ombros são muitas vezes molduras perfuradas, modelado e pergaminhos. Menos frequentes são os anéis de banda lisa. 


Anel cunhagem, III seg. d. C., Paris, Bibliotheque Nationale, Cabinet des medailles moldura polígono é adicionado para um Padrão de Ouro Maximino Thrax (235 -238 dC). O ombros são perfurados com padrões peltae e pergaminhos. 

Do mesmo modo que para as pulseiras, uma moeda de ouro pode ser inserida numa pinça que desempenha a função de elemento de fecho ou utilizados como uma banda de metal circular decorativa. Os pinos têm uma aparência muito semelhante à dos pingentes.


As moedas são incluidas num painel que é soldado ao suporte de motivos decorativos comuns para os segundos quadros dos pingentes de moedas. Na parte de trás da gema, o sistema de olho é soldado ao suporte que permite a fixação ao vestuário. 


Pulseira cunhagem de Lyon, "Tesouro Lazaristes", encontrado em Lyon de 1841. Este inclui duas pulseiras sem encerramento "Commodus" datada de 192 d.c.

Várias hipoteses têm sido avançadas sobre a função interpretativa das jóias com cunhagem da moeda romana. Alguns defendem que acumularam moedas de ouro em um período de grave crise económica outros propõem um valor ideológico politico a partir da consideração de que o lado visível da moeda é sempre reservada para o retrato imperial. Acredita-se que as moedas de ouro funcionavam como um amuleto-talismã. 


Colar de Moedas, do Tesouro de Nikolaevo (Bulgária), III sec. d. C., Sophia, Museu Nacional de Arqueologia.
O pingente tem um Caracalla em ouro e uma moldura de ouro em formato de estrela, na qual foram incorporadas quatro chrysoprase verde e quatro granadas Vermelhas. O colar é equipado com um sistema de gancho e fechamento de loops, soldadas em cápsulas de forma a retratar cabeça de cobra. - See more 

A joalheria romana sofreu uma vasta influência, não só dos etruscos, dos gregos e dos povos pertencentes à cultura helênica, mas também das culturas micênicas, minoanas e egípcias.
Aurifex Brattiarius: inscrito em uma placa, avisa aos passantes em frente à loja que um ourives ali trabalhava. Os ourives do antigo Império Romano vinham predominantemente do Oriente, e preferiam trabalhar nas principais do Império, como Alexandria, Antioquia e a própria Roma. Uma das mais óbvias razões para a grande quantidade de ourives em Roma era a grande riqueza das famílias patrícias. Estas pequenas dinastias possuíam uma enorme quantidade de jóias, além de baixelas e objetos decorativos em ouro e prata.
O trabalho dos ourives era extremamente apreciado. Na Casa dos Vertii, em Pompéia, ainda podemos admirar um afresco decorativo mostrando dois cupidos entretidos na fabricação de jóias. As jóias também serviam para adornar estátuas: diademas, braceletes, colares e brincos decorados com pérolas, esmeraldas, cristais de esmeraldas aram as gemas mais utilizadas para aumentar a magnificência das estátuas romanas.
Os cidadãos romanos podiam amar jóias, mas a Lei Romana impedia os excessos. O primeiro código de lei romano, chamado de Lei das Doze Tábuas, determinava a quantidade de ouro que podia ser enterrada junto com um cadáver. No século III aC, a Lex Oppia fixava em meia onça de ouro a quantidade que uma mulher poderia usar. Isto, sem dúvida, modificou a maneira de vestir de muitas das matronas romanas. Mas evidências históricas nos mostram que foram achados meios de compensar os limites da lei. O historiador Plínio, conhecido na História pela sua aguda observação da sociedade romana de seu tempo, nos conta que mulheres podiam usar três pérolas de grande tamanho em cada orelha e que a Imperatriz Lollia Paulina, terceira esposa de Calígula, utilizava uma quantidade excessiva de jóias até mesmo em ocasiões onde a austeridade era necessária, como nos funerais.
O ouro era o metal mais valorizado pelos antigos romanos. Como não era sujeito à corrosão, nem se deteriorava, sendo então eterno e incorruptível, era o metal que mais refletia os ideais romanos. Durante a República, os anéis de ouro só podiam ser usados por uma determinada classe social ou ofertados em ocasiões especiais, como em honras militares, aos generais e oficiais vitoriosos. Com o fim do período republicano, o uso estendeu-se a todos os cidadãos romanos.
Para as crianças, existia o Etruscum Aurum, um amuleto circular usado como proteção. Inicialmente usado quando dos ritos de passagem da infância para a vida adulta, mais tarde tornou-se meramente um jóia de adorno.
É importante notar que, assim como em todos os séculos da História do homem, a joalheria dos antigos romanos serviu como símbolo de classe social, de status e de ostentação de riqueza. Uma triste evidência desta preocupação com a ostentação pode ser vista junto aos restos humanos preservados de vários cidadãos romanos na cidade de Pompéia: ao perderem precioso tempo tentando carregar com eles suas jóias e objetos valiosos em ouro, foram mortos por asfixia pelas cinzas e gases emanados do Vesúvio em erupção.