quinta-feira, 26 de junho de 2014

A vida na corte de Alexandre e o tesouro de Felipe II

Peças da maior exposição já realizada sobre o rei da Macedônia revelam o luxo e a riqueza que cercavam a família e os poderosos dos tempos do lendário general Fred Leal.


HERÓI

A cabeça em mármore, achada nas ruínas de 
Aegae, foi esculpida perto de 340 a.C.

Entre o começo deste mês e o final de agosto, o museu Ashmolean, na cidade inglesa de Oxford, apresenta uma exposição que vem sendo considerada uma das mais importantes de todos os tempos por especialistas e historiadores. A mostra “De Hércules a Alexandre, o Grande” reúne material coletado nos sítios arqueológicos de Vergina, pequena cidade serrana no norte da Grécia, situada próxima ao local original da capital da Macedônia.

SUPERSTIÇÃO 

As duas faces de Medusa em ouro puro foram encontradasno túmulo do rei Filipe II, pai de Alexandre


A curadora da mostra, Angeliki Kottaridi, é também a responsável pelas escavações, que começaram a revelar seus tesouros há cerca de 30 anos. No entanto, apenas uma pequena fração do cemitério e do gigantesco palácio do rei Filipe II, pai de Alexandre, foi escavada até agora. Segundo o historiador britânico Robin Lane Fox, já seria o suficiente para fazer com que o Palácio de Buckingham, em Londres, se pareça com um casebre no campo.


MINÚCIA

Detalhe de vaso de prata descoberto na tumba de Filipe II

O cemitério contém cerca de 500 covas, entre elas, os supostos túmulos da família real: além de Filipe II, acredita-se que ali estejam enterrados Alexandre IV da Macedônia, filho assassinado de Alexandre, o Grande e Roxana, e Filipe III da Macedônia, meio-irmão do lendário general. No entanto, os restos do conquistador não devem ser encontrados nas escavações porque o monarca morreu durante sua campanha de expansão territorial pela Pérsia e pela Ásia.


LOUROS 

A coroa em ouro, com folhas e flores de murta e carvalho,era um dos adornos de Roxana, rainha de Alexandre 

Os túmulos foram encontrados praticamente intactos e trazem resquícios da influência de Alexandre na cultura grega, como a introdução de elementos decorativos asiáticos e egípcios nos frisos e inscrições, além de mosaicos e peças trabalhadas em bronze, prata e ouro como jarros e cetros. Um dos destaques da mostra é uma tradicional coroa de louros da rainha – um diadema de ouro representando folhas e flores de murta e carvalho.


GUERREIROS 

A placa de ouro era parte de um escudo enterrado
junto com um membro da família real

As escavações no palácio do rei da Macedônia também prometem revelar detalhes inacreditáveis sobre a vida na corte. Foram encontrados até agora 16 salões para banquete que comportariam mais de 400 convidados, acomodados em sofás duplos. Outros 3.500 comensais poderiam ser instalados na corte da então capital do Reino Macedônio, Aegae.

O sucesso da exposição na Europa lança também as bases para a possível construção de um museu permanente. A Grécia, que vive um momento econômico extremamente delicado, pode vir a abrigar na Inglaterra um espaço inteiramente dedicado à história da Macedônia – mas os planos não são imediatos, afinal, a escavação ainda segue, com o apoio da Universidade de Oxford e da Universidade Aristotélica Salônica, na Grécia. A mostra conta ainda com patrocínio do Ministério da Cultura e Turismo do governo grego e da coleção particular do milionário grego George Economou.

O evento também põe em perspectiva o passado e o presente da re­gião, anunciado pelo subtítulo “Um reino helênico na era da democracia”. Segundo Angeliki Kottaridi, a força do povo grego reside em seu passado e em sua memória. E não há dúvida de que Alexandre é um dos melhores candidatos para resgatar o orgulho da nação.


O TESOURO DE FELIPE II
DA MACEDÔNIA


A arte da criação das jóias macedônias tem estreita ligação com a cultura helênica. Em temos de estilo, os ourives macedônios tinham o mesmo alto nível artístico que os ourives do sudoeste da Grécia e rapidamente adicionavam novas técnicas e elementos decorativos à suas criações, aprendidos com os artesãos helênicos.
Os ourives macedônios conseguiram obter fantásticos efeitos de refração da luz na superfície de suas jóias, obtidos através da granulação, do "open-work", da grande variedade de diferentes planos em uma mesma peça e das inúmeras e estreitas faixas decoradas com motivos florais.
Para os historiadores, o ápice da joalheria da antiga Macedônia está representado pelas jóias e objetos em ouro da tumba de Felipe II, conquistador da Grécia, encontrada em 1977 em Vergina, sítio perto da antiga capital da Macedônia, Aigai.

A tumba, contendo os restos cremados de Felipe II e sua segunda esposa Cleópatra – sua primeira esposa foi Olímpia, mãe de Alexandre, o Grande- contém um dos maiores tesouros em objetos preciosos já encontrados: um porta-flechas (gorytos) em prata dourada; duas coroas em ouro, sendo uma formada por folhas de carvalho e a outra, presumivelmente da rainha Cleópatra, decorada com folhas de murta e 112 flores recortadas de lâminas de ouro de diferentes espessuras; dois diademas em prata sólida banhada a ouro; variadas placas decorativas para vestuário; um colar peitoral em ouro; fivelas em ouro decoradas com o sol estrelado macedônio; cinco bustos em miniatura de marfim e ouro, representando toda a família real; restos de uma armadura peitoral feita em tecido de linho, couro , fios e placas de ouro, que Felipe II usava em cerimônias oficiais, incluindo paradas militares e celebrações; um escudo ornamental que, pela variedade de cenas representadas e pela riqueza dos materiais nele empregados, assemelha-se ao escudo do herói Aquiles, descrito na "Ilíada"; e uma fantástica quantidade de objetos decorativos em prata e bronze. Todos estes itens datam do período entre 350 e 330 aC.
Os restos mortais de Felipe II, envoltos em tecidos de cor púrpura e azul bordados com fios de ouro, foram depositados em uma esplêndida urna funerária (larnax) feita em madeira e totalmente coberta com folhas de ouro. Ao criar esta magnífica peça, os talentosos ourives da Macedônia usaram grande imaginação e criatividade, combinando uma decoração elegante e refinada com a suntuosidade do material e a sua importante função simbólica. Na tampa da urna está gravado em alto-relevo o símbolo da dinastia real da Macedônia: o sol estrelado com 16 raios.
Os metais preciosos, principalmente o ouro, eram conhecidos e utilizados pelos artífices macedônios desde o início da sua história, graças ao controle que tinham das minas de ouro e prata situadas nos Bálcãs, e também nos montes Cárpatos. Esta abundancia está atestada em documentados comerciais encontrados na região que abrange o sudoeste da Grécia e também nas jóias e objetos preciosos encontrados em tumbas macedônias, como as máscaras funerárias destinadas a cobrir os rostos dos mais ricos e proeminentes cidadãos desta antiga e importante civilização.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Conheça a história da Joalheria Árabe

Os povos antigos da Península Arábica prosperaram como ponto de interseção das rotas de comércio do mundo, como mercadores de seus próprios recursos naturais – de início incenso e mirra - e como compradores de mercadorias de terras distantes. A Península, com o florescimento do comércio, tornou-se porta de entrada para o Oriente. As trocas comerciais passaram a envolver, tempos depois, especiarias, sedas, marfim e outras mercadorias preciosas com o Egito e os países que bordejavam o Mediterrâneo.





Com a prosperidade nesta região, veio o gosto por adornos caros e feitos de materiais preciosos. Não somente os ricos mercadores mas também as mulheres das tribos beduínas eram grandes consumidores de ornatos preciosos. Na tradição árabe, as jóias representam mais do que uma ornamentação corpórea. Para as mulheres beduínas, suas jóias simbolizam status sócio- econômico : quando uma mulher se casa, seu dote é parcialmente pago em jóias, as quais ficam sob sua vontade exclusiva, para guardar ou dispor como bem entender. Devido ao estilo de vida migrante das tribos beduínas, as jóias logo se tornaram uma forma segura de transportar riquezas. As jóias de uma mulher simbolizam seu status de mulher casada e mais tarde, o de mãe de família, já que o costume tribal é de se presentear a mãe a cada nascimento de um filho.

Na cultura árabe, as jóias têm sido consideradas como possuidoras de poderes mágicos. A turquesa, por exemplo, teria o poder de evitar o mau-olhado. Diz uma lenda popular que a turquesa teria a capacidade física de resplandecer quando quem a usa está feliz e de se tornar opaca quando a pessoa está triste. Outro mito popular seria o de que os pequenos sinos vistos tão freqüentemente em várias jóias árabes protegeriam, com o barulho que emitem ao serem movimentados, de espíritos ruins. Pelos costumes árabes, a cor de certas pedras também teria poderes especiais. Verde, azul e vermelho são consideradas cores protetoras. Por esta razão, a turquesa, a ágata, o coral e pastas de vidro coloridas nestas cores estão dentre os mais populares materiais utilizados em jóias antigas.
Motivos islâmicos permeiam o design das jóias árabes. Jóias em forma de amuletos, contendo minúsculos pedaços de papel com versos do Alcorão são comuns. O desenho de uma mão em colares sauditas tem sido usado como talismã por centenas de anos. O número 5 é o equivalente matemático à mão, assim como também representa os cinco mandamentos do Alcorão.

Ao contrário das mulheres, os homens árabes preferem ornar suas armas e camelos do que eles próprios. Tais ornamentos são considerados uma indicação visual da riqueza, do poder e do status de um homem. Na tradição islâmica, o Alcorão desencoraja a utilização de adornos em ouro pelos homens. Os modernos sauditas utilizam alianças de casamento em prata, para honrar o costumes descrito no livro sagrado.
As crianças árabes também utilizam jóias. Braceletes ou tornozeleiras feitos em prata , freqüentemente decorados com minúsculos sinos, são a escolha mais popular para presentear as crianças. Os som dos sinos, além da crença da proteção, providenciam também uma fonte de entretenimento para os pequenos.
Os artesãos árabes nunca se ressentiram da falta de materiais preciosos para trabalhar. O Mar Vermelho, que bordeja a costa ocidental da Arábia Saudita, tem sido uma fonte inesgotável de coral. Do rosa–escuro ao vermelho, assim como nas cores branca e preta, o coral tem sido utilizado durante séculos, não só como amuleto ou talismã, mas também como objeto decorativo. Na costa oriental, o Golfo Arábico oferece magníficas pérolas. Estes tesouros são usados freqüentemente para adornar jóias em ouro. Jazidas localizadas no sudoeste da Península também oferecem uma grande quantidade de gemas, particularmente as jazidas de turquesa de Makkah.

A prata tem sido a matéria–prima principal dos ourives beduínos e as minas no interior na Península provêm a maior parte da prata utilizada. A fragilidade da prata, facilmente corroída quando exposta ao ar e a temperaturas áridas, é a grande responsável pelo desaparecimento de uma grande quantidade de jóias antigas. Alguns historiadores reportam que quando uma mulher beduína morre, suas jóias são derretidas – parte por causa do fato de que são considerados propriedade pessoal – e atribuem a este fato à pouca quantidade de jóias em prata que chegou até nossos dias. São raros os exemplares de jóias com mais de 80 anos. O ouro, por outro lado, é um material muito mais resistente. Apesar do metal não ser o mais utilizado pelos artesão beduínos, a quantidade de jóias em ouro antigas que chegou até nossos dias é muito maior do que a de prata.
Várias técnicas e processos estão envolvidos na manufatura das jóias árabes. Para a junção de duas peças, a técnica da fusão é a mais usada. O embossing e o repoussésão técnicas decorativas empregadas. 

A granulação também é utilizada, assim como a filigrana. Utilizando-se calor intenso e carbonato de cobre, o artesão produz os fios para a filigrana e as minúsculas esferas da granulação. A confecção de correntes é outra técnica para o trabalho em prata, metal ainda preferido pelos artesãos beduínos: as correntes são variadas no design e na ornamentação. Algumas correntes são feitas somente com elos interligados, outras são elaboradas combinações de elos e gemas, incluindo filigrana e granulação. As técnicas de lapidação dos tradicionais joalheiros beduínos são antigas, sendo as gemas em cabochon as que mais se destacam.

A joalheria beduína é significativa não somente pelas suas qualidades estéticas, mas também pelas influências históricas que sofreu: ao longo dos séculos, tem incorporado técnicas e estilos de diferentes civilizações, algumas já extintas. A combinação de eventos históricos trouxe à Península novas e significativas influências para a arte da joalheria. Segundo historiadores, isto pode ser atribuído ao cruzamento entre a migração e as trocas comerciais havidos na região. Com a expansão de antigas rotas comerciais, surgiram na região novos materiais para confecção de jóias, como o âmbar, e também novas técnicas de confecção, como a filigrana e a granulação, estas adquiridas da antiga civilização egípcia. Com o advento do Islamismo em 622 d.C., os peregrinos vindos da África e da Ásia para visitar as cidades santas contribuíram para o design conhecido como arabesco, que é a conjunção da caligrafia com o estilo decorativo islâmicos.
Atualmente, o design tradicional ainda permanece popular entre as mulheres da Península, mas a grande preferência é pelas jóias confeccionadas em ouro: penduradas nas lojinhas dos souqs, uma grande quantidade de jóias continua refletindo a rica herança de antigas civilizações.

domingo, 22 de junho de 2014

A história dos broches- segunda parte

A história dos broches ainda não terminou por aqui:
no rococó, os laços e as fitas faziam sucesso na decoração das jóias, criando intrincados entrelaces em torno dos broches. Os broches mais usados tinham o design de um bouquet de flores, com as gemas imitando quase à perfeição o colorido das flores e folhas. Os broches utilizados pelas damas no corpete eram, em geral, confeccionados em duas partes, para permitir uma maior mobilidade, já que ocupavam toda a extensão da altura desta parte do vestuário.


No neoclássico, com a volta aos estilos grego e romano, os broches apareceram mais associados a camafeus, agora não só feitos de marfim, mas também em pasta de porcelana ou vidro. A companhia de James Tassie, Glasgow, Escócia, utilizando moldes de coleções de antigüidades ou mesmo de jóias contemporâneas à época, fabricava camafeus de vidro. Em 1791, foram listados em torno de 15.000 diferentes tipos de broches. Eram tão perfeitos que a imperatriz russa Catarina, "A Grande", ordenou a confecção de vários broches para uso pessoal. Com o estilo império, ditado pela ascensão de Napoleão I ao trono da França, os camafeus de pasta de vidro e porcelana continuam na moda, adornados com pérolas e diamantes.

No romantismo e, depois, na belle époque, a descoberta das minas de diamante em Kimberley, Africa do Sul, fez surgir a chamada ‘joalheria branca’: jóias adornadas somente com diamantes e, às vezes, com pérolas. Motivos naturalistas como flores, vinhas, borboletas e gaivotas eram populares. O delicado estilo ‘guirlanda’, de Cartier, foi inspirado em livros da época de Luís XVI e Maria Antonieta. No final do século XIX, pequenos broches adornavam em profusão os corpetes, e também os cabelos.


O estilo art nouveau foi responsável por delicados broches florais decorados com esmaltação plic-à-jour. A flora e os insetos eram fontes de grande inspiração e metais como a platina, o ouro e a prata, e materiais como o vidro e o marfim eram utilizados junto a diamantes, rubis, pedras-da-lua, ágatas, pérolas e safiras, em harmoniosas composições.

Os broches durante o período art decó, identificado pela geometricidade no design e contraste de cores, conseguido pela utilização de gemas como coral vermelho, lápis-lazúli, jade e ônix, tendiam a ser pequenos e eram usados no ombro, em cintos ou chapéus.

Durante a segunda guerra mundial, a indústria joalheira decresceu em produção na Europa. Algumas maisons continuaram a trabalhar em ritmo mais lento, e a Cartier foi uma delas. São famosos os broches que simbolizavam a Paris ocupada pelos alemães e a Paris libertada: o primeiro, um pássaro preso numa gaiola e o segundo, um pássaro cantando com a gaiola aberta. Os motivos naturalísticos predominavam, caracterizados pela assimetria, espontaneidade e movimento: pássaros exóticos, animais e bouquets de flores.

A partir de 1960, a joalharia teve uma significativa mudança, que se reflete até hoje em dia. As grandes maisons joalheiras continuaram a produzir jóias em materiais preciosos seguindo estilos evocados de épocas precedentes, mas surgiram tambémdesigners e artesãos, egressos de escolas de artes, que trabalhavam individualmente. Uma quantidade enorme de novas idéias surgiu e continua surgindo, algumas revolucionárias em quase todos os aspectos, outras mostrando novos estilos, no entanto claramente envolvidas em tradições estabelecidas. Assim como outras peças de joalharia, o broche também tem servido de ‘campo experimental’ para estes novos profissionais: broches confeccionados em espuma dura, papel, plásticos, madeiras, metais diversos e também, claro, em materiais preciosos como o ouro, a platina, o nióbio e a prata, todos com propostas inovadoras e criativas.