Peças da maior exposição já realizada sobre o rei da Macedônia revelam o luxo e a riqueza que cercavam a família e os poderosos dos tempos do lendário general Fred Leal.
HERÓI
A cabeça em mármore, achada nas ruínas de
Aegae, foi esculpida perto de 340 a.C.
Entre o começo deste mês e o final de agosto, o museu Ashmolean, na cidade inglesa de Oxford, apresenta uma exposição que vem sendo considerada uma das mais importantes de todos os tempos por especialistas e historiadores. A mostra “De Hércules a Alexandre, o Grande” reúne material coletado nos sítios arqueológicos de Vergina, pequena cidade serrana no norte da Grécia, situada próxima ao local original da capital da Macedônia.
SUPERSTIÇÃO
As duas faces de Medusa em ouro puro foram encontradas
no túmulo do rei Filipe II, pai de Alexandre
A curadora da mostra, Angeliki Kottaridi, é também a responsável pelas escavações, que começaram a revelar seus tesouros há cerca de 30 anos. No entanto, apenas uma pequena fração do cemitério e do gigantesco palácio do rei Filipe II, pai de Alexandre, foi escavada até agora. Segundo o historiador britânico Robin Lane Fox, já seria o suficiente para fazer com que o Palácio de Buckingham, em Londres, se pareça com um casebre no campo.
MINÚCIA
Detalhe de vaso de prata descoberto na tumba de Filipe II
O cemitério contém cerca de 500 covas, entre elas, os supostos túmulos da família real: além de Filipe II, acredita-se que ali estejam enterrados Alexandre IV da Macedônia, filho assassinado de Alexandre, o Grande e Roxana, e Filipe III da Macedônia, meio-irmão do lendário general. No entanto, os restos do conquistador não devem ser encontrados nas escavações porque o monarca morreu durante sua campanha de expansão territorial pela Pérsia e pela Ásia.
LOUROS
A coroa em ouro, com folhas e flores de murta e carvalho,
era um dos adornos de Roxana, rainha de Alexandre
Os túmulos foram encontrados praticamente intactos e trazem resquícios da influência de Alexandre na cultura grega, como a introdução de elementos decorativos asiáticos e egípcios nos frisos e inscrições, além de mosaicos e peças trabalhadas em bronze, prata e ouro como jarros e cetros. Um dos destaques da mostra é uma tradicional coroa de louros da rainha – um diadema de ouro representando folhas e flores de murta e carvalho.
GUERREIROS
A placa de ouro era parte de um escudo enterrado
junto com um membro da família real
As escavações no palácio do rei da Macedônia também prometem revelar detalhes inacreditáveis sobre a vida na corte. Foram encontrados até agora 16 salões para banquete que comportariam mais de 400 convidados, acomodados em sofás duplos. Outros 3.500 comensais poderiam ser instalados na corte da então capital do Reino Macedônio, Aegae.
O sucesso da exposição na Europa lança também as bases para a possível construção de um museu permanente. A Grécia, que vive um momento econômico extremamente delicado, pode vir a abrigar na Inglaterra um espaço inteiramente dedicado à história da Macedônia – mas os planos não são imediatos, afinal, a escavação ainda segue, com o apoio da Universidade de Oxford e da Universidade Aristotélica Salônica, na Grécia. A mostra conta ainda com patrocínio do Ministério da Cultura e Turismo do governo grego e da coleção particular do milionário grego George Economou.
O evento também põe em perspectiva o passado e o presente da região, anunciado pelo subtítulo “Um reino helênico na era da democracia”. Segundo Angeliki Kottaridi, a força do povo grego reside em seu passado e em sua memória. E não há dúvida de que Alexandre é um dos melhores candidatos para resgatar o orgulho da nação.
O TESOURO DE FELIPE II
DA MACEDÔNIA
A arte da criação das jóias macedônias tem estreita ligação com a cultura helênica. Em temos de estilo, os ourives macedônios tinham o mesmo alto nível artístico que os ourives do sudoeste da Grécia e rapidamente adicionavam novas técnicas e elementos decorativos à suas criações, aprendidos com os artesãos helênicos.
Os ourives macedônios conseguiram obter fantásticos efeitos de refração da luz na superfície de suas jóias, obtidos através da granulação, do "open-work", da grande variedade de diferentes planos em uma mesma peça e das inúmeras e estreitas faixas decoradas com motivos florais.
Para os historiadores, o ápice da joalheria da antiga Macedônia está representado pelas jóias e objetos em ouro da tumba de Felipe II, conquistador da Grécia, encontrada em 1977 em Vergina, sítio perto da antiga capital da Macedônia, Aigai.
A tumba, contendo os restos cremados de Felipe II e sua segunda esposa Cleópatra – sua primeira esposa foi Olímpia, mãe de Alexandre, o Grande- contém um dos maiores tesouros em objetos preciosos já encontrados: um porta-flechas (gorytos) em prata dourada; duas coroas em ouro, sendo uma formada por folhas de carvalho e a outra, presumivelmente da rainha Cleópatra, decorada com folhas de murta e 112 flores recortadas de lâminas de ouro de diferentes espessuras; dois diademas em prata sólida banhada a ouro; variadas placas decorativas para vestuário; um colar peitoral em ouro; fivelas em ouro decoradas com o sol estrelado macedônio; cinco bustos em miniatura de marfim e ouro, representando toda a família real; restos de uma armadura peitoral feita em tecido de linho, couro , fios e placas de ouro, que Felipe II usava em cerimônias oficiais, incluindo paradas militares e celebrações; um escudo ornamental que, pela variedade de cenas representadas e pela riqueza dos materiais nele empregados, assemelha-se ao escudo do herói Aquiles, descrito na "Ilíada"; e uma fantástica quantidade de objetos decorativos em prata e bronze. Todos estes itens datam do período entre 350 e 330 aC.
Os restos mortais de Felipe II, envoltos em tecidos de cor púrpura e azul bordados com fios de ouro, foram depositados em uma esplêndida urna funerária (larnax) feita em madeira e totalmente coberta com folhas de ouro. Ao criar esta magnífica peça, os talentosos ourives da Macedônia usaram grande imaginação e criatividade, combinando uma decoração elegante e refinada com a suntuosidade do material e a sua importante função simbólica. Na tampa da urna está gravado em alto-relevo o símbolo da dinastia real da Macedônia: o sol estrelado com 16 raios.
Os metais preciosos, principalmente o ouro, eram conhecidos e utilizados pelos artífices macedônios desde o início da sua história, graças ao controle que tinham das minas de ouro e prata situadas nos Bálcãs, e também nos montes Cárpatos. Esta abundancia está atestada em documentados comerciais encontrados na região que abrange o sudoeste da Grécia e também nas jóias e objetos preciosos encontrados em tumbas macedônias, como as máscaras funerárias destinadas a cobrir os rostos dos mais ricos e proeminentes cidadãos desta antiga e importante civilização.
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