segunda-feira, 30 de junho de 2014

A história da joalheria Romana

Os famosos retratos da múmia egípcio-romana (datados em torno de 300 aC), mostram o gosto romano por jóias de uma forma bem realista. Veja abaixo alguns exemplos:







Outra interessante fonte arqueológica encontra-se nas esculturas funerárias de Palmira, no noroeste do deserto sírio, outrora chamada de Roma do Leste, e governada pela legendária rainha Zenóbia, que manteve este pequeno estado árabe independente, até ser conquistado pelos romanos e sua rainha enviada para Roma acorrentada. 
O que hoje é considerada a joalheria clássica dos antigos romanos também pode ser vista nas jóias encontradas em Pompéia e Herculano.A joalheria clássica romana era naturalista e figurativa, ora confeccionada em linhas planas e simples, era em elaborados motivos florais. Em geral, os artesãos e ourives romanos não eram tão sofisticados ou ambiciosos quanto seus colegas gregos: a joalheria helênica é , de longe, bem mais elaborada, detalhada e decorada. Ainda assim, evidências de jóias requintadas sobreviveram. As esmeraldas eram as gemas favoritas: podiam ser usadas na forma de cristais, junto a pérolas – outra gema extremamente apreciada- ou lapidadas e usadas para decorar colares mais elaborados, à imitação dos gregos. Safiras, águas-marinhas, topázios e diamantes brutos também eram muito utilizados na joalheria romana. 
Veja alguns modelos da joalheria clássicas:

 
Tiara Helenística, Séc. IV/III ac. $2.500

 
Entalhe Funerário Egípcio, Jaspe Vermelho, $10.000, séc. VIac

 
Medalhão com representação da Lua, deusa pagã. Ouro, séc. III/VI (6,2cm diâm). $12.000

 
Pendente com entalhe romano em ametista. Séc. Iac. $5.000

 
Pendente Egípcio, Ouro, $8.000, Séc. VIIac

Importante par de pulseiras Helenísticas dos finais do séc. IV ac. Ouro. Raras e muito cobiçadas base:$80.000

Importante par de discos etruscos (séc. IV ac), bem representativos da maestria técnica de ourivesaria que este povo atingiu. $4.000. Fecho de colar Grego, cabeças de leão, séc. V ac, peça rara e de extrema qualidade. $15.000

 
Conjunto de colares diversos, médio oriente, 2º e 3º milénios a.c.; cada um ca. $2.000. De salientar o raro par de brincos (arrecadas) assírias do séc. VIII ac. em excelente estado de conserveção, $45.000

 
Pormenor de dois colares romanos em ouro e ágatas. séc.II ac.

 
Camafeu Romano em Ónix. Séc. III. $1.500

Dois pares de brincos helenísticos. Da esq para a direita, Séc. II e I ac; $12.000 e $4.000

Par de brincos Helenísticos do séc. IV ac. $12.000



O design romano utilizava granulação e filigrana, e o uso de esmaltes não era tão comum. Raramente somente um elemento de estilo existia na decoração de uma jóia – por exemplo, as superfícies em forma de domos, características do Período Etrusco e encontradas em brincos e braceletes, conviviam perfeitamente com influências helênicas como a policromia – técnica que consistia em folhear uma superfície de madeira com folhas de ouro , às quais eram depois aplicados esmaltes (e que persistiu até meados de 400 dC, já em pleno Império Bizantino). A bulla persistiu até o primeiro século da nossa era e a roda, símbolo que se acreditava deter poderes mágicos, tornou-se um motivo recorrente nas jóias romanas. Dos gregos emergiu também a fibula – uma espécie de alfinete para prender roupas e que se tornou bastante popular entre os romanos, da Síria veio o design do crescente invertido com esferas em ambos os lados, e que representava o deus condutor de carruagens Baal Rekub. Da Ásia Ocidental veio a influência, já no primeiro século depois de Cristo, da barra horizontal da qual pendiam dois ou três pendentes verticais.
Veja alguns modelos de fíbulas:

Fíbulas germânicas do século V.

Arquivo: KHM Wien VIIb 349 - fibula.jpg 'VTERE FELIX'
Inglês: fíbula ouro romana inscrita "VTERE FELIX" ( Use isto com sorte ),
 tarde terceiro século dC. Do local do enterro do Osztropataka Vandal, 
em torno ou antes de 300 dC.

Fibula Braganza, British Museum

No ano 200 dC aparece o opus interrasile, técnica de perfurar sólidas folhas de metal para criar um trabalho decorativo e que mudou a face das jóias do Período Imperial. Uma influência do comércio existente durante o período da Roma Imperial foi a predileção por jóias onde várias gemas coloridas decoravam uma mesma peça – os romanos amavam os rubis, as ágatas, as granadas, os lápis- lazulis, os corais rosas e vermelhos encontrados no mar Mediterrâneo e o âmbar, encontrados nas águas frias dos mares do Norte e Báltico. Intaglios eram recortados em gemas, ou as mesmas podiam ser decoradas em cabochons. Os camafeus eram adorados e as pérolas podiam ser usadas em tiaras usadas para adornar os altos penteados das ricas matronas romanas.
Veja alguns modelos feitos com a técnica do opus interrasile:

Pulseira d'enfant
Pulseira d'enfant Orne de Perles et de saphirs.
Interrasile Opus , placa d'or découpée à jour. Trouvé en Syrie. Vers 400

Antiga pulseira de ouro romana doHoxne Hoard , encontrado na Grã-Bretanha e enterrado 
depois de 407 AD. O nome JULIANE é soletrada para fora.

anel de dedo; Romano-britânica; 2ndC-3rdC; Parque da Rainha

cadeia de mama; No início bizantino; 7thC (precoce);Assiut; Antinoupolis

colar; No início bizantino;6thC-7thC

pulseira; Romano-britânica;Hoxne

pulseira; Romano-britânica;Hoxne

colar; Tarde antigo; 4thC;Silivri

pingente; No início bizantino;7thC

placa; Tarde antigo; 4thC;Turquia

pingente; No início bizantino;7thC

No segundo século dC, torna-se moda a utilização de moedas e medalhões de ouro imperiais como motivos decorativos para anéis entre os homens, o que também era uma marca de distinção militar. Quando as moedas eram utilizadas em colares, como pendentes ou em broches, significavam uma adulação por parte de quem as portava, em relação ao dono da face que se encontrava nas moedas ou medalhões. O niello,outra técnica decorativa onde eram utilizadas superfícies de ouro e prata, era popular e, a partir de 300 dC aparecem os braceletes de ouro maciço e a versão crossbowdas versáteis fibula, que eram semelhantes às atuais fivelas redondas para cintos (mas num tamanho bem maior), e ainda usadas para prender roupas, principalmente mantos.


A cunhagem de moedas em jóias

A moda de incorporar moedas no adorno pessoal é conhecida no mundo grego. O grande florescimento da cunhagem de jóias remonta ao período romano imperial médio.


Equiparando as poucas jóias que remontam ao final do século I-II. C., com o período de severa, existe, de fato, uma produção notável de cunhagem de jóias. Estas continuam a ser criadas, mas em menor medida, a cunhagem com as formas mais marcantes, mesmo no século IV e início do século V. A reutilização com função decorativa de moedas romanas foi limitada ao seu valor nominal em ouro.


Esporadicamente verifica-se a utilização de amostras de prata (denier e Quinari), por vezes revestida com uma folha de ouro, de forma a assumir o aspecto de uma moeda valiosa. O uso em folha de ouro, obtido a partir de espécimes por moeda surgiu também de forma casual.

Raríssimo é, finalmente, a utilização de metais não preciosos. O lado visível da moeda mostra o retrato do imperador ou da imperatriz. 


Inclinada cunhagem de Roma (via Ostiense Necropolis), a primeira metade do segundo século d.c., Roma, Museo Nazionale Romano. O pingente foi colocado no pescoço dell'inumata, com um círculo dourado suave, opaco e incorporado um quinário de Adriano.


Inclinada cunhagem-pingente, de origem desconhecida, consiste num quadro com ovos de ouro das palmas e Mãos Los Opaco.Nesta peça está inserida a Antoninianus 244-247 AD de Filipe I. 


Colar cunhagem do Egito (Assiut), Início do Século V. d. C., Berlim, Museu Staatliche, Antikensammlung atual Moeda de Ouro (87 cm). Acoplado num grande pingente com um quadro "opus interrasile", cujo centro é múltiplo num conjunto de Honorio (393/5-423 c.d.).


Colar cunhagem Egito, Final antecipada I-II d. C., Londres, Museu Britânico Pingente contém um simples círculo de um aureus de ouro domiciano 91 d.c.. Apartir desta foi colocada em suspense a actual de ouro (50,8 cm). Sistema de Bloqueio Operacional, típico de fabricação de jóias egípcias. 

Tipos

As jóias da cunhagem romana são essencialmente compostas por seis tipos: de suspensão, elementos para colares, broches, pulseiras, anéis, cintos de fechamento. As moedas pingentes podem ser usadas individualmente ou combinadas em números variados em belos colares. Paralelamente a estas jóias mais generosas, estão as moedas simplesmente equipadas com um buraco que é suposto ser usado para suas cadeias de suspensão ou cintos. 


Parece bastante limitado para o mundo da barbaricum que se aplicam ao uso de moedas de ouro romano, ou suas imitaçoes, um simples appiccagnolo, soldá-lo para a borda superior da amostra, que é então fechada em si mesma representa um quadro decorativo.


Inclinando-se a cunhagem de barbaricum (21,19 g) Ouro múltipla Constâncio II no valor de cinco Sólidos, emitido na Casa da Moeda de Sirmium no 355-356 d. C. Os pingentes foram transformados através de solda na beira de um pequeno cilindro oco. ouro decorado com ranhura.


Apesar de não serem numerosos,os colares moeda conheceram um tempo de difusão muito longo. Quando mais pingentes estão suspensos à cadeia, mais estes são separados um do outro por espaçadores adequados, barras cilíndricas ou poligonal pilastrini. Iguais ou semelhantes ao elemento de fecho do colar pode-se inserir uma moeda.


Os colares de moedas descritos em documento egípcio, utilizam um sistema de extensão da cadeia através de ouro "ânforas". Pingentes representavam a classe mais generalizada porque eles próprios são despojados de alguma corrente de metal a que se poderia estar ligado, presume-se que neles foram suspensos fitas, tal como o couro ou tecido.

Este tipo de jóias é assumido como uma moeda de uso feminino. 


Inclinando-se a cunhagem de Vaise (Lyon), III d. C., Lyon, Musée de la Civilização galo-romana. O pingente foi encontrado com um marco de 1992, incorporação em quadro de um peltae num total de Ouro do Gordian III 238-244. 


Colar de cunhagem Aboukir Bay (Egito), Metade do III d. C., Kansas City, Nelson-Atkins Museum of Art. Os onze pingentes dourados contêm moedas Adriano, António Pio, faustina Sênior, júnior Faustina, pertinax, Carcala, Macrino, Heliogábalo, Gordiano III (238-244 d.c.). Um padrão-ouro do século XII, emitido por Alexandre Severo, é inserido num golfinho de Risso. Um peso atinge o total de 309 gramas (comprimento 77cm). 


O arranjo de busca sugere pingentes de certa simetria apartir de diferentes tipos de estrutura. o contorno dos pingentes são geralmente circulares, hexagonais e octogonais.

O quadro assume uma maior amplitude nos pingentes e as moedas de IV e V século podem ser usadas para o anel de suspensão.


Colar cunhagem IIId.c., Chicago,The Field Museum de História Natural três pingentes que encerram o ouro Otacília Severa, Gordian III e Probus (276-282 d.c.). Decoração com folhagens e pergaminhos. Dois pingentes colaterais, incorporados na planta padrão geométrico estrela de oito pontas.

Os quatro espaçadores, formam pilastras e são obtidos com a técnica de opus interrasile . A passagem de varias correntes de ouro decoradas com anforas permite alongar o colar. 


O mundo romano não revelou alguns tipos de cunhagem mas especula-se que eram do uso masculino. Neste tipo de gema, a moeda assume a função de bisel. Os ombros são muitas vezes molduras perfuradas, modelado e pergaminhos. Menos frequentes são os anéis de banda lisa. 


Anel cunhagem, III seg. d. C., Paris, Bibliotheque Nationale, Cabinet des medailles moldura polígono é adicionado para um Padrão de Ouro Maximino Thrax (235 -238 dC). O ombros são perfurados com padrões peltae e pergaminhos. 

Do mesmo modo que para as pulseiras, uma moeda de ouro pode ser inserida numa pinça que desempenha a função de elemento de fecho ou utilizados como uma banda de metal circular decorativa. Os pinos têm uma aparência muito semelhante à dos pingentes.


As moedas são incluidas num painel que é soldado ao suporte de motivos decorativos comuns para os segundos quadros dos pingentes de moedas. Na parte de trás da gema, o sistema de olho é soldado ao suporte que permite a fixação ao vestuário. 


Pulseira cunhagem de Lyon, "Tesouro Lazaristes", encontrado em Lyon de 1841. Este inclui duas pulseiras sem encerramento "Commodus" datada de 192 d.c.

Várias hipoteses têm sido avançadas sobre a função interpretativa das jóias com cunhagem da moeda romana. Alguns defendem que acumularam moedas de ouro em um período de grave crise económica outros propõem um valor ideológico politico a partir da consideração de que o lado visível da moeda é sempre reservada para o retrato imperial. Acredita-se que as moedas de ouro funcionavam como um amuleto-talismã. 


Colar de Moedas, do Tesouro de Nikolaevo (Bulgária), III sec. d. C., Sophia, Museu Nacional de Arqueologia.
O pingente tem um Caracalla em ouro e uma moldura de ouro em formato de estrela, na qual foram incorporadas quatro chrysoprase verde e quatro granadas Vermelhas. O colar é equipado com um sistema de gancho e fechamento de loops, soldadas em cápsulas de forma a retratar cabeça de cobra. - See more 

A joalheria romana sofreu uma vasta influência, não só dos etruscos, dos gregos e dos povos pertencentes à cultura helênica, mas também das culturas micênicas, minoanas e egípcias.
Aurifex Brattiarius: inscrito em uma placa, avisa aos passantes em frente à loja que um ourives ali trabalhava. Os ourives do antigo Império Romano vinham predominantemente do Oriente, e preferiam trabalhar nas principais do Império, como Alexandria, Antioquia e a própria Roma. Uma das mais óbvias razões para a grande quantidade de ourives em Roma era a grande riqueza das famílias patrícias. Estas pequenas dinastias possuíam uma enorme quantidade de jóias, além de baixelas e objetos decorativos em ouro e prata.
O trabalho dos ourives era extremamente apreciado. Na Casa dos Vertii, em Pompéia, ainda podemos admirar um afresco decorativo mostrando dois cupidos entretidos na fabricação de jóias. As jóias também serviam para adornar estátuas: diademas, braceletes, colares e brincos decorados com pérolas, esmeraldas, cristais de esmeraldas aram as gemas mais utilizadas para aumentar a magnificência das estátuas romanas.
Os cidadãos romanos podiam amar jóias, mas a Lei Romana impedia os excessos. O primeiro código de lei romano, chamado de Lei das Doze Tábuas, determinava a quantidade de ouro que podia ser enterrada junto com um cadáver. No século III aC, a Lex Oppia fixava em meia onça de ouro a quantidade que uma mulher poderia usar. Isto, sem dúvida, modificou a maneira de vestir de muitas das matronas romanas. Mas evidências históricas nos mostram que foram achados meios de compensar os limites da lei. O historiador Plínio, conhecido na História pela sua aguda observação da sociedade romana de seu tempo, nos conta que mulheres podiam usar três pérolas de grande tamanho em cada orelha e que a Imperatriz Lollia Paulina, terceira esposa de Calígula, utilizava uma quantidade excessiva de jóias até mesmo em ocasiões onde a austeridade era necessária, como nos funerais.
O ouro era o metal mais valorizado pelos antigos romanos. Como não era sujeito à corrosão, nem se deteriorava, sendo então eterno e incorruptível, era o metal que mais refletia os ideais romanos. Durante a República, os anéis de ouro só podiam ser usados por uma determinada classe social ou ofertados em ocasiões especiais, como em honras militares, aos generais e oficiais vitoriosos. Com o fim do período republicano, o uso estendeu-se a todos os cidadãos romanos.
Para as crianças, existia o Etruscum Aurum, um amuleto circular usado como proteção. Inicialmente usado quando dos ritos de passagem da infância para a vida adulta, mais tarde tornou-se meramente um jóia de adorno.
É importante notar que, assim como em todos os séculos da História do homem, a joalheria dos antigos romanos serviu como símbolo de classe social, de status e de ostentação de riqueza. Uma triste evidência desta preocupação com a ostentação pode ser vista junto aos restos humanos preservados de vários cidadãos romanos na cidade de Pompéia: ao perderem precioso tempo tentando carregar com eles suas jóias e objetos valiosos em ouro, foram mortos por asfixia pelas cinzas e gases emanados do Vesúvio em erupção.

sábado, 28 de junho de 2014

A história da joalheria brasileira

Os mais de sete mil anos da da joalheria acompanham o progresso e as transformações sociais, culturais e religiosas da História do Homem, e o Brasil tem sua importante parcela dentro desta história que continua acontecendo.
As viagens patrocinadas por portugueses e espanhóis no final do século XV afetaram significativamente o comércio de gemas ocidental. A descoberta do Novo Mundo por Colombo em 1492 aumentou o comércio de esmeraldas, e imensas quantidades de prata e ouro descobertas em minas da América do Sul trouxeram enorme fortuna à Espanha e a Portugal. Com a descoberta do Cabo da Boa Esperança em 1498, e uma conseqüente passagem oceânica para a Índia e suas minas de diamantes, Lisboa gradualmente tomou o lugar de Veneza como o principal porto de chegada de tão valiosa mercadoria.
Nos primeiros séculos desde o Descobrimento em abril de 1500, a História da Joalheria Brasileira é um retrato fiel do que acontecia na Europa. No século XVI, os portugueses chegaram à costa brasileira e encontraram as tribos indígenas, que se adornavam com penas de pássaros coloridas, sementes e ossos de animais ou aves.

                                        Peitoral Kayapó.                                Cocar Wayana.
                      American Museum of Natural History.          American Museum of Natural History. 


Cocar Wayana.
 American Museum of Natural History. 


Cocar Guarani. Museu Etnológico de Viena. 


Maracas decoradas com penas, 
provenientes do Mato Grosso.
 Museu Etnológico de Viena.


Colar Tikuna. Museu 
Etnológico de Viena. 


Vestimenta cerimonial Munduruku.
 Museu Etnológico de Viena. 


Adereço de cabeça Makuna. 
Museu Etnológico de Viena. 

O Renascimento era o estilo em voga na Europa no século XVI. As jóias renascentistas criadas incluíam peças históricas decoradas com esmaltes e pedras preciosas, cujo nível artístico é comparado aos da pintura e da escultura do mesmo período: artistas como Hans Holbein, Albrecht Dürer e Benvenuto Cellini eram contratados por mecenas para desenhar peças que estimulassem os ourives renascentistas a chegar a níveis nunca antes alcançados nas técnicas de esmaltação, gravação e cravação.
veja o vídeo à seguir que mostra maravilhosas jóias renascentístas:


O Brasil ainda estava no início da sua história e as jóias aqui usadas por homens e mulheres eram muito raras, mas as poucas que existiam já evidenciavam a moda vinda de Portugal e de outros países europeus. Não havia, ainda, uma tradição de ourivesaria no país: as raras peças vinham de fora. As jóias femininas, com o abandono dos complicados penteados medievais e dos novos ares renascentistas, tornaram-se mais leves: fivelas para sapatos, anéis e brincos - curtos no início do século XVI, e depois mais longos - eram os preferidos. Os cabelos eram presos e trançados com pérolas ou pequenos adornos em ouro ou pedras preciosas e usava-se a ferronière, broche adornando a testa e preso à cabeça por uma fita.
Os colares passaram a ser curtos, confeccionados em pérolas e com um broche à guisa de pendente, mas também eram usadas longas correntes feitas em ouro que podiam ser presas ao corpo dos vestidos, nas mulheres, e ao pescoço ou cruzadas nos ombros, para os homens. Estes usavam também anéis, fivelas decoradas em ouro para sapatos, broches nos chapéus e somente um brinco, moda criada pelo rei francês Francisco I, que se estendeu por toda a Europa e também pelas Américas.
Raríssimas nesta época no Brasil eram as vestimentas masculinas e femininas que podiam ser decoradas com as aiguillettes (agulhinhas), pequenos e finos ornamentos em ouro. Os principais motivos decorativos das jóias eram os devocionais – simples cruzes, monogramas contendo as letras IHS e, também, peças mais complicadas em sua confecção: pequenas esculturas que simbolizavam, por exemplo, a Virgem e o Menino, e as que retratavam navios, símbolos náuticos ou mitológicos como sereias e monstros marinhos. Broches e pendentes em camafeu eram também apreciados por homens e mulheres, mas raríssimas foram as jóias com este adorno no Brasil colonial do século XVI.

Aqui estão alguns modelos de adornos em cabelos e jóias renascentístas:












As gemas, de início lapidadas “em mesa” (a superfície reta que fazia com que os diamantes adquirissem um brilho escuro), passaram a ser lapidadas “em rosa” a partir do início do século XVII - gemas lapidadas com a base plana e tendo um domo recortado em facetas triangulares. Este novo século trouxe o Barroco, onde a troca de estilo foi evidente, com as jóias tornando-se um símbolo de status social devido à grande quantidade de gemas na mesma peça - fato ocasionado por causa da considerável melhoria na lapidação das mesmas. O design, no Barroco, perde a expressão artística que teve no período anterior. Mas utilizavam-se menos jóias.

Idade Moderna




Os motivos decorativos principais eram a natureza, notadamente flores e pássaros do Novo Mundo, e os laços, feitos de fitas de tecido ou de ouro, aos quais eram anexados pendentes e eram usados para adornar tanto vestidos femininos quanto vestes masculinas. As fivelas para sapatos continuam em moda, assim como brincos e anéis, para homens e mulheres.No século XVIII as fitas foram substituídas por fivelas de ouro ou prata, com ou sem pedrarias. 

Sapato Mule em seda, com aplicações de cetim e rosetas. Século XVII. Inglaterra - MMA

Fivela para sapato em metal e pedras. Século XVIII. Inglaterra - MMA

Sapatos em seda, ouro e pele. Anos 1720-39. Europa - MMA

Sapatos de cetim verde com aplicações de cetim e fivela de pedras em forma de flor. Século XVIII - Museu Nacional dos Coches (fotografia Horácio Novais)

Sapatos de cetim branco bordado a fio de ouro, lantejoulas e pedraria, decote rematado com galão e pompom de seda. Século XVIII - Museu Nacional dos Coches (fotografia Horácio Novais)

Réplica de sapato Luis XV com estampa floral e fivela com pedras. Ano de 1760 - MNC


Com o início do século XVIII começaram as expedições dos Bandeirantes ao interior do país, que trouxeram uma importante consequência: a descoberta de minas de ouro e gemas como os diamantes, os topázios e as esmeraldas. Perto de 1.000 toneladas de ouro e três milhões de quilates de diamantes foram extraídos do país entre 1700 e 1800. Devido ao Tratado de Methuen em 1703, a Inglaterra passou a suprir Portugal com produtos têxteis e estes eram pagos com ouro das minas brasileiras. O aporte do ouro brasileiro à Inglaterra ajudou a estimular a Revolução Industrial e teve como negativa conseqüência para o Brasil Colonial o desencorajamento do desenvolvimento industrial, já que os ingleses passaram a suprir as colônias com produtos industrializados.
Este século também viu chegar o apogeu do tráfico de escravos negros, graças à exploração das minas de ouro e gemas: quase dois milhões de africanos foram desembarcados nos portos brasileiros até 1822. Com a conseqüente miscigenação ocorrida entre os brancos e os escravos negros, já na década de 1770 eram esmagadora maioria os mulatos na capitania das Minas. Muitos deles aprenderam de mestres europeus as diversas expressões artísticas do estilo Barroco e, junto com a herança cultural ancestral vinda da África, produziram interessantes peças de joalheria. Mas a exploração do ouro e das gemas trouxe também milhares de migrantes das plantações nas costas brasileiras, atraiu uma nova e grande imigração de Portugal e estimulou o crescimento da criação de gado assim como o boom das plantações de cana-de-açúcar e café. Novas cidades surgiram nos atuais estados de Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro e São Paulo, e uma nova e rica classe social surgiu, atraindo o trabalho de ourives vindos de Portugal e da Espanha, mas que notadamente ainda mantinham sua fonte de inspiração e criação no Velho Mundo.


Mas se na Europa as peças passaram a ser assimétricas e leves por causa do estilo Rococó - originado em Paris na década de 1730 - se comparadas com as jóias barrocas, aqui no Brasil tenderam a ser mais pesadas e adornadas com gemas em profusão, devido à abundância e a proximidade das minas de ouro e pedras preciosas, evidenciando a preferência pela continuação do estilo Barroco.
Apenas para os pertencentes ao extrato mais alto da então sociedade colonial brasileira surgem, pela primeira vez, jóias para serem utilizadas durante o dia, mais leves, e jóias para serem usadas à noite, desenhadas especialmente para resplandecerem iluminadas pela luz dos candelabros.
As caixinhas para rapé feitas em ouro e decoradas com gemas eram moda entre os homens, assim como as chatelaines – correntes usadas à volta da cintura feminina, nas quais eram penduradas ricas bolsinhas decoradas com fios de ouro e gemas assim como pequenos objetos confeccionados no metal precioso, como chaves, tesourinhas e caixinhas para pó-de-arroz e perfumes - eram uma das peças preferidas entres as mulheres. Tanto as roupas masculinas quanto as femininas passaram também a ser adornadas com botões decorados com gemas.











O estilo seguinte, chamado Neoclássico, recebeu este nome porque todas as artes decorativas passaram a inspirar-se nas linhas dos estilos grego e romano. Esta nova fonte de inspiração impôs uma simplificação nas vestimentas, masculinas e femininas, e linhas mais severas ao design das jóias, refletindo os anos de mudanças políticas em toda a Europa e Américas que se seguiram à Revolução Francesa.
A história da joalheria no complexo século XIX inicia - se com as grandiosas jóias criadas para a corte do Imperador Napoleão I e que serviram de padrão para toda a Europa e Américas até à Batalha de Waterloo em 1815: os conjuntos de jóias chamados parures, compostos de tiaras, brincos, gargantilhas ou colares, e braceletes fantasticamente adornados com gemas como o diamante, a esmeralda, a safira, o rubi e a pérola, cujo esplendor sobressaía mais do que o próprio design das peças. A tentativa da França em dominar toda a Europa encontrou resistência na Inglaterra. Portugal, clamando neutralidade, continuou a honrar os acordos comerciais com a Inglaterra e, como consequência, França e Espanha concordam em dividir Portugal - acordo este firmado pelo Tratado de Fontainebleau em 1807 - e Napoleão ordena a invasão do país. Com a ameaça iminente, a rainha portuguesa D.Maria I decide transferir a sede da monarquia portuguesa para o Brasil, aonde chega com toda a sua Corte e vários artistas e artífices – incluindo renomados ourives - à cidade do Rio de Janeiro, já há tempos sede da Colônia, em janeiro de 1808.
A sede da monarquia portuguesa no Brasil durou até 1821 quando o rei D.João VI, forçado por pressões políticas a retornar a Portugal, deixa seu filho o príncipe D.Pedro como vice-rei reinante. O estabelecimento de uma administração real pelo período de 14 anos mudou substancialmente a economia, através da chegada de europeus de várias nacionalidades, do fluxo de mercadorias manufaturadas estrangeiras e do começo da industrialização no Brasil, e também os costumes das famílias: anteriormente praticamente reclusas ao lar, as mulheres passaram a freqüentar ruas, praças e teatros. Para não fazer feio diante das damas da Corte portuguesa, as senhoras brasileiras, além de freqüentar lojas de modas e cabeleireiros, solicitam como nunca antes os serviços dos ourives, que adaptam o design francês que continuava em moda, ao design mais rebuscado do estilo Barroco português. Mas o movimento pela emancipação do Brasil começa a tomar uma proporção maior, depois do retorno de D.João VI a Portugal e isto se reflete na confecção das jóias no Brasil, que agora passam também a adquirir características próprias: o Romantismo – com sua volta aos designs da Antiguidade e da Idade Média - em alta na Europa, influencia intelectuais e artistas brasileiros, que se preocupam em mostrar em suas obras e criações as características especiais – ressaltando temas como a flora, a fauna e o indígena - de uma nação que se inicia, distinta de todas as outras.


Em 7 de Setembro de 1822, com a proclamação da Independência do Brasil e a posterior Coroação de D.Pedro com primeiro Imperador brasileiro em 1º de Dezembro do mesmo ano, o nacionalismo está no auge. A coroa de D.Pedro I é confeccionada pelo ourives fluminense Manuel Inácio de Loiola e pesa 2.689g de ouro. As jóias usadas por homens e mulheres passam a ser decoradas com gemas que lembram as cores escolhidas para a nova Bandeira, e é considerada chique a utilização de motivos decorativos que façam alusão aos novos símbolos do Império e às riquezas brasileiras.
O crescente gosto pelo luxo, encorajado por um período de prosperidade, baixos impostos e uma sociedade elitizada surgida com o 'boom' da Revolução Industrial, foi expresso pelas inúmeras jóias guarnecidas somente com diamantes, principalmente depois da descoberta das minas da África do Sul na década de 1860.


Com a produção de diamantes das minas sul-africanas, o Brasil perde, então, o primeiro lugar como produtor mundial de diamantes, mas isto não fez muita diferença na confecção das jóias brasileiras, que continuavam a ser decoradas também com gemas coloridas. Os motivos decorativos principais eram as flores, borboletas, pássaros e a serpente. Ramalhetes compostos por diferentes flores e ramagens eram utilizados como broches para adornar vestidos e cabelos, com um efeito deslumbrante. Também os camafeus enfeitam colares, broches e pulseiras e, por causa da influência da rainha inglesa Vitória - que cedo se tornou viúva, a joalheria de luto tornou-se moda aqui também: broches com mechas de cabelo ou pendentes decorados com motivos fúnebres são usados por quem perdia um ente querido.
Em 1831, D.Pedro I abdica em favor de seu filho, que é então coroado como D.Pedro II. A coroa do segundo Imperador brasileiro reflete a maestria a que chegou a arte da confecção de jóias no Brasil. Feita por Carlos Marin, ourives carioca fornecedor da Casa Imperial, que também confeccionou outras jóias - símbolo do poder imperial brasileiro, como o Globo Imperial, o cetro e o anel da Sagração, a coroa é de grande beleza e as gemas utilizadas na sua decoração são quase todas nacionais, à exceção das pérolas: para a confecção da coroa de D.Pedro II, adornada com 639 brilhantes e 77 pérolas, foram aproveitados os diamantes da coroa de seu pai. Durante o reinado de meio século do segundo imperador brasileiro, o país alcançou maturidade política e cultural. Uma competente administração foi criada de forma a unir o vasto território e a escravidão foi progressivamente eliminada até ser completamente abolida em 1888. Com isto, uma nova onda de imigrantes europeus, vindos de vários países, chega ao Brasil, e a cultura e as artes têm um novo incremento. Devido à influência exercida pelo Imperador sobre a população e as instituições, a transição da Monarquia para a República em 1889 pode ser feita sem derramamento de sangue. Com a República, os novos símbolos do país passaram também a decorar colares, anéis e broches, usados como exaltação do novo status de nacionalidade alcançado.
Com o início do século XX, joalheiros europeus como Cartier e Boucheron adotaram um novo estilo, inspirado no século XVIII, chamado de Belle Èpoque, compondo jóias - onde a delicadeza das guirlandas, das flores estilizadas e da utilização da platina era uma reação à banalidade das jóias recobertas de diamantes. Por volta da mesma época, os joalheiros da corrente Art Nouveau, liderados por René Lalique, criaram furor na Exposição de Paris de 1900, com designs inspirados na natureza e executados em materiais como marfim e chifres de animais, escolhidos mais pela sua qualidade estética do que por seu valor intrínseco. Como não eram jóias práticas para uso, o estilo rapidamente desapareceu com o início da Primeira Guerra Mundial e por isso não influenciou significativamente o design das jóias brasileiras.
A paz na Europa em 1918 vê impor-se na joalheria européia e norte-americana o estilo Art Decò, com seu design associado ao Cubismo, ao Abstracionismo e ao Modernismo da arquitetura da Bauhaus.
O Modernismo no Brasil teve início com a realização da Semana de Arte Moderna em fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, cujo objetivo era colocar a cultura brasileira a par das novas correntes do pensamento europeu ao mesmo tempo em que pregava a tomada de consciência da realidade brasileira, rompendo com todas as estruturas do passado. As senhoras ricas das grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo encomendavam preferencialmente suas peças diretamente de Paris, mas belíssimas jóias com gemas nacionais também eram feitas por ourives brasileiros, inspirados pelas mudanças artísticas e político-sociais do chamado “movimento modernista”.


O Modernismo brasileiro atravessou todo o período da Segunda Guerra Mundial e foi além. A partir de 1945, a fundação de novos museus foi um fator de grande importância para a divulgação das artes no Brasil e, a partir de 1950 a Bienal de São Paulo faria convergir para o país a arte contemporânea de todas as partes do mundo, incluindo o movimento concretista, em cujas obras predomina o geometrismo e do qual Brasília é o melhor exemplo de expressão arquitetônico-urbanista.
Seguindo uma tendência mundial nas últimas décadas, a arte da joalheria no Brasil vem se adaptando a uma clientela que compra não só para uso, mas também como investimento e que se interessa por novos e diferentes designs. Esta nova clientela motivou a ênfase na qualidade das gemas, que passaram a ser perfeitamente facetadas para atender a um mercado cada vez mais exigente na qualidade. Surgiram novas idéias e conceitos e, também, novos materiais, utilizados pelos designers de jóias para exprimir seu traço criativo. Arquitetos e artistas plásticos de várias expressões passaram também a desenhar jóias, abrindo espaço em galerias de arte e museus para a exibição de suas criações. A elegância e o equilíbrio do design de um colar ou par de brincos passou a ser bem mais valorizado do que a quantidade de ouro que a peça podia conter. Novas maneiras de se utilizar tradicionais peças como anéis ou braceletes foram sugeridas, e a jóias passaram a ser vistas também como pequenas esculturas que, dependendo da criatividade e da técnica de confecção empregada, podiam adquirir novas formas.
Atualmente, a joalheria brasileira está voltada para o desenvolvimento do design. As fronteiras entre a joalheria, a escultura, a arte performática e a moda estão constantemente em expansão e não existem mais preconceitos quanto à utilização de materiais e técnicas não-convencionais. As jóias brasileiras já são identificadas no mercado consumidor estrangeiro pelo traço jovem e leve, pela paleta de cores e pela beleza das peças. Com a joalheria artesanal feita pelos designers de jóias brasileiros e a produção em escala feita pela indústria nacional joalheira, onde em ambos os casos têm-se procurado aliar criatividade e inovação ao design, redimensionar a utilização das matérias-primas preciosas necessárias para a confecção de jóias, usar novas tecnologias de fabricação e praticar bons preços, o Brasil vem demonstrando que, apesar de todas as crises financeiras, o setor joalheiro nacional vem correspondendo favoravelmente a um mercado consumidor, interno e externo, sempre crescente e que busca qualidade e estilo diferenciado.