segunda-feira, 14 de abril de 2014

A história das jóias no Egito

A arte do antigo Egito é repleta de símbolos e significados.
Para compreendermos melhor sua arte e suas jóias é necessário entender um pouco de sua história e religião.
O território do Egito Antigo se estendia às margens do rio Nilo, onde as terras de solo escuro, propícias para cultivo, eram chamadas de kemet (terras negras) e onde vivia a maior parte da população.  O restante do território era inóspito, chamado pelos egípcios de deshret (terras vermelhas). A maior parte da população vivia nas margens do rio.
Além de terras férteis, o Egito possuía um solo rico em minério. Ouro, cobre e algumas gemas eram retiradas do próprio território.
Civilização rica e poderosa, durou mais de 3 mil anos e era governada por faraós, homens que ao mesmo tempo eram considerados reis e deuses.
Informações desta cultura sobreviveram até os dias atuais através das pinturas de paredes, escrita e tesouros encontrados nas tumbas. As pinturas das paredes eram ricas em detalhes de vestuário, armas, rotina de agricultores e servos, entre outros. As pinturas contam a história do Egito com ricos detalhes inclusive de seus adornos e jóias. A escrita egípcia, sistema de símbolos pictóricos conhecido como hieróglifos, também ajuda a desvendar mistérios deste período. Os tesouros encontrados nas tumbas são ricos em objetos do cotidiano, jóias e objetos extraordinários.

 Pintura em parade

Politeístas, os egípcios adoravam inúmeros deuses. Um dos principais deuses era Rá, deus do Sol, que podia assumir diferentes formas e diversos nomes. Também relacionado com Amon-Rá, era o rei dos deuses. Amon significa “secreto”. A ele é atribuído o ouro.
Osíris representa o renascimento tanto da terra após as cheias do Nilo, como a do corpo na vida após a morte. Assassinado pelo próprio irmão, foi trazido de volta a vida por sua esposa Ísis e se tornou o deus do além.
Muitos deuses possuíam cabeça de animais. Ísis é a deusa-mãe, poderosa e protetora. Em sua busca ao corpo do marido surgiu como um pássaro, pipa, por isso muitas vezes é representada com asas. Acompanhava Osíris e Néftis, irmã de Osíris no julgamento dos mortos.
Anúbis, Deus com cabeça de chacal, levava o morto ao tribunal de Osíris. Deus do embalsamento e guardião dos mortos.
Hórus, o deus da realeza, com cabeça de falcão, leva os mortos que passaram pela balança da pena da verdade, à presença de Osíris.
A intenção deste julgamento era “transformar o morto em um Osíris (“imortais”), para viver para sempre no pós-morte.
Acreditavam também que alguns símbolos poderiam trazer boa sorte e proteção. Alguns eram relacionados a certos deuses e podiam invocar seus poderes. Estes símbolos eram muitas vezes representados em jóias para adornar e proteger quem as usasse.


 peitoral de Tutankamon


 Máscara Tutankamon (18° dinastia)





Fenícios - os grandes navegadores

Povo nômade que se estabeleceu na região do atual Líbano, os fenícios eram comerciantes e grandes navegadores, o que ajudou a difundir diferentes culturas entre os povos com os quais estabelecia comércio. Sua posição geográfica foi de grande valia, já que encontrava-se no cruzamento das principais rotas comerciais entre o mediterrâneo do ocidente e o do oriente.

Graças às suas habilidades náuticas, reinaram no Mar Mediterrâneo. Levavam de cada povo não apenas riquezas materiais, mas riquezas culturais. Assim, suas produções artísticas, bem como a ourivesaria, agregaram diversas técnicas. Através do comércio, sua arte se expandiu, influenciou e foi influenciada por terras distantes como a grega e a etrusca , chegando até o Norte da África.

Em suas jóias são observados elementos de diversas culturas. Os fenícios não só agregavam elementos em sua arte, mas os assimilavam na íntegra, reproduzindo-os impecavelmente.
Destacaram-se não apenas na arte da joalheria. Trabalharam com maestria o vidro, a madeira, a tecelagem, técnicas de tinturaria, cerâmica e metalurgia.
A madeira, especificamente o Cedro, foi uma das grandes riquezas deste povo, o que facilitou a construção das embarcações e a conseqüente ampliação de seus horizontes.
Um exemplo desta troca de conhecimentos técnicos entre os povos é o uso da granulação na joalheria. Esta técnica de decoração de superfícies com grãos adicionados por fusão foi difundida e usada pelos fenícios. Levaram o conhecimento Egeu até os Etruscos.
Atrás de âmbar foram até ao Mar Báltico e ajudaram a difundir a lapidação de gemas.
A joalheria fenícia não se destaca pela originalidade, mas pela união de culturas e técnicas de diversos povos que foram disseminadas graças ao comércio e a navegação. Estas, talvez tenham sido as principais artes e características deste povo que foi dissolvido com a ocupação dos macedônios de Alexandre, o Grande.

A história das jóias

O homem sempre sentiu a necessidade de se adornar. Os primeiros adornos eram feitos com ossos e dentes de animais, conchas, pedras e madeira e simbolizavam o status, o poder ou misticismos.
O ouro é explorado pelo homem há mais de 6.000 anos. Acompanha a evolução humana, assim como as artes, contando a história através de belas jóias.
Em cada período histórico, as características das jóias e das artes se transformaram. Vamos conhecer um pouco sobre essa história através da joalheria.

Pré-história: Eram utilizados materiais como pedras, ossos, sementes e dentes de animais, lapidados de forma rústica.

Egípicios: As jóias deste período eram carregadas de misticismo e simbolismos. Figurativas, essas peças tinham formas de escaravelhos, que representavam o sol e a criação; olho do deus Horus, que protegia contra maus espíritos ou até mesmo de serpentes e escorpiões. Utilizavam muitas cores, que também eram carregadas de simbolismos. A policromia era obtida através de gemas como o lápis-lazúli, feldispato verde e  turquesa ou até mesmo esmalte vitrificado.

Gregos: A princípio os gregos utilizavam formas geométricas. Com influência de outros povos passaram a produzir cenas mitológicas em brincos, braceletes e colares.

Etruscos: As técnicas de filigrana e granulação foram utilizadas com extremo primor

Celtas: A joalheria Celta sofreu grande influência de povos estrangeiros. Adaptaram as técnicas de outros povos à sua arte de trabalhar o metal. Utilizaram  de forma magistral técnicas como: filigrana, gravação, intaglio, fundição, esmalte e granulação.

Romanos:  Os romanos utilizavam o ouro para financiar guerras. Somente em 27 a.C., com novas fontes do metal, é que os romanos passaram a utilizar parte deste ouro na joalheria. Lentamente, as jóias foram se tornando mais populares.

Idade Média: Na Idade Média a arte sofreu grande influência religiosa (teocentrismo). As jóias eclesiásticas ganharam força, sendo muito usados escapulários, crucifixos e relicários por ambos os sexos.
Apareceram as primeiras sociedades de ourives, os quais se instalaram em guildas (corporações de ourives).  As jóias tinham um simbolismo muito forte, não só religioso,  mas também de status e divisão de classes.  Existiam leis para o uso das jóias.
O esmalte foi uma das técnicas em destaque.
Os anéis eclesiásticos, são usados até hoje por cardeais, bispos e pelo papa. A Burguesia utilizou anéis gravados com monogramas como instrumentos de autenticação de documentos.
Os cintos e broches, além de adornar, eram funcionais. O vestuário também era ricamente adornado.  Fios de ouro e gemas eram aplicados às bordas dos tecidos.
As gemas tiveram um papel de destaque. Em uma técnica para realçar sua cor, algumas delas recebiam uma fina camada de metal. Foram criadas leis restringindo o uso desta técnica em conseqüência de seu uso indiscriminado.
As pérolas, rubis, safiras, esmeraldas e granadas foram as gemas mais utilizadas. Além do formato cabochão, pedras com facetas começam a surgir. É o período onde a lapidação começou a se desenvolver.

Joalheria Bizantina: Caracterizou-se pelo uso de gemas, pela policromia e trabalhos delicados de filigrana e granulação, expressando a fusão das culturas orientais e ocidentais. Nesse período, o tema principal era o religioso
As principais gemas utilizadas foram as pérolas e safiras.
O esmalte decorava peças ricas em detalhes na representação de santos, retratos e desenhos abstratos
A lapidação era muito primária. Utilizava-se apenas arredondar as arestas, lapidar em forma de contas e polir as facetas naturais da gemas

Estilo gótico: A arquitetura gótica com seu verticalismo influenciou a joalheria de maneira gradual. A arte gótica surge em um momento de crescimento das cidades medievais. O estilo arquitetônico gótico já estava emergindo por volta de 1150, mas somente no final do século XIII é notado seu reflexo na joalheria. Surgem novas formas, mais angulares e pontudas que resultam em formas elegantes. A arquitetura retrata a crença na existência de um Deus que vive em um plano acima da humanidade, e isso explica o verticalismo, onde tudo aponta para o céu. Sua maior representação esta nas catedrais.

Renascimento: Com os estudos de anatomia e engenharia que ganharam força nesta época, os ourives conseguiram reproduzir com fidelidade, formas humanas representadas em peças inspiradas na mitologia.
A joalheria deixou de ser patrocinada pelo clero e passou a ser patrocinada pela burguesia. Foi então que o ofício de ourives começou a ganhar status de arte assim como a pintura e escultura.
Com as navegações e a descoberta das Américas, a Europa foi abastecida de ouro, prata e gemas
Era costume usar vários anéis na mesma mão, assim como muitos colares. Também era comum o uso de pingentes, brincos, broches e jóias para o cabelo e chapéu.  Os adornos de chapéus eram feitos de ouro esmaltado, com motivos mitológicos ou religiosos. Camafeus também começaram a ser introduzidos na composição destes adornos.

Estilo Barroco: Nas jóias barrocas o que predomina é a emoção que vem contrapor com o racionalismo do renascimento.
A França dita a moda. A jóias passam a ser usadas com mais moderação e ficam mais elegantes. Temas religiosos perdem espaço para os temas naturalistas como pássaros e flores.
Houve um grande avanço na lapidação. Os desenhos de peças para o dia eram diferentes dos para serem utilizados à noite, já que estas deveriam refletir com mais intensidade a luz dos candelabros.
As jóias são usadas como ostentação de poder e riqueza
O diamante foi a gema preferida, mas  rubis, esmeraldas e safiras também foram muito utilizados.

Rococó: O barroco se transforma em exuberância. Assimétricas, as jóias deste período são sedutoras. Utilizava-se muitas gemas coloridas e diamantes. As técnicas de lapidação foram aprimoradas. As peças tinham muito brilho e eram mais luxuosas. Surgem os conjuntos de jóias, peças feitas com a mesma linguagem formal e mesmos materiais
Brincos, anéis, pendentes em formatos de buquês e laços são jóias muito utilizadas.

Neoclássico: Com a revolução francesa, a referência volta a ser os estilos grego e romano, limpando a jóia dos excessos dos estilos anteriores. Camafeus, medalhões e correntes voltam a ser utilizados.
As gemas, usadas com moderação, eram enfatizadas através de uma moldura de diamantes, ouro ou pérolas que rodeavam a gema principal. Tiaras, anéis e braceletes fazem parte dos adornos usados.

Art Nouveau: A inspiração deste estilo era a Natureza.  Suas jóias eram a mais bela representação das linhas orgânicas. Utilizavam materiais como marfim, chifres, vidros entre outros.

Belle Époque: A jóia neste período era usada com o intuito de adornar as mulheres e satisfazer sua vaidade

Art Decó: O Cubismo e o Abstracionismo, assim como as linhas da  Bauhaus, tiveram forte influência neste período. Geométricos, os colares e longos brincos também eram produzidos em materiais alternativos (não preciosos), como o aço.

Segunda Guerra: Após a Segunda Guerra, a Europa deixa de ditar moda e adota o estilo de vida americano. O cinema é um grande meio de difusão deste estilo. O glamour de Hollywood começa a imperar.
Com a guerra ouve uma queda de fornecimento de gemas. Abriu-se, então, um grande espaço para as bijuterias finas

Anos 60 e 70: A forma era mais valorizada que o material e novos conceitos passam a ser empregados, utilizando plástico e até mesmo papel. O design passa a ser valorizado pelo conceito.

Nas próximas postagens estaremos mostrando histórias e design de jóias em diferentes lugares do mundo.